Calor excessivo preocupa produtores de soja
Diante das dúvidas e preocupações, o Sistema Faeg/Senar/Ifag realiza live mensal para atualizar produtores sobre cenário climático. Veja o último conteúdo com Alexandro Alves, coordenador técnico do IFAG e André Amorim, gerente do Cimehgo.
Atraso no plantio e perda no potencial produtivo do grão estão entre as consequências do clima em Goiás e Mato Grosso do Sul
O produtor rural Ivan Brucceli, de Rio Verde (GO), já está considerando uma produtividade menor da soja para a safra 2023/24, tendo em vista o calor excessivo e a falta de chuva na região. "O grão já não tem o mesmo potencial produtivo do ano passado. Precisa dar uma boa chuva para normalizar", ressalta. E mesmo que a chuva chegue, Ivan acredita que a produtividade que foi de 70 sacas por hectare no ciclo passado deve ficar em torno de 50 sacas por hectare no atual.
Dos 800 hectares de cultivo da leguminosa nas áreas do produtor, parte já foi plantada e está na floração, iniciando a fase de enchimento de grãos. A outra parte, plantada mais tarde, está nascendo no campo. Ivan segue monitorando as condições do tempo dia a dia: "o desenvolvimento da soja depende do clima, o calor já afetou as lavouras, mas tenho fé que vai chover logo". A expectativa, ele esclarece, é de chuvas localizadas.
Sem precipitações, também fica complicado fazer aplicação de fungicidas, comenta o agricultor, uma vez que a ação gera ainda mais estresse na planta ao tentar metabolizar o produto. "Nesse momento, temos que fazer o básico bem feito, para poder ao menos pagar os custos da produção", completa, com a colheita prevista para acontecer entre 10 de janeiro a 15 de março.
Impactos do calor
Leonardo Machado, assessor técnico de Agricultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), comenta que o clima quente e a falta de chuva estão interferindo na dinâmica da safra de soja em todo o estado . De acordo com ele, atualmente 45% da área está semeada.
"Em anos normais, nesse período acima de 60% da área já estaria semeada", compara. Além disso, o assessor destaca que as altas temperaturas trazem perdas com a redução do potencial produtivo das plantas e, em casos mais graves, com a necessidade de replantio. "Já estão ocorrendo alguns casos pontuais", afirma.
Com previsão de plantio de 4,6 milhões de hectares de soja - a quarta maior área do país -, a expectativa de produtividade média para Goiás de 64 sacas por hectare e de produção de 17,5 milhões de toneladas do grão - segundo levantamento da Conab - deve ser afetada pela onda de calor que atinge o estado. "Pode ser que tenhamos números bem menores", diz o assessor da Faeg.
Como consequência indireta do clima, Leonardo aponta que o atraso no plantio da soja deve impedir a semeadura de milho safrinha na região. "Isso refletirá em menor rentabilidade para o produtor", avalia.
Para evitar perdas ainda maiores, o assessor da Faeg indica para os produtores que estejam sempre acompanhando as previsões climáticas, em conjunto com a assessoria técnica da propriedade, a fim de fazer o plantio no momento correto, uma vez que plantar em períodos sem precipitações pode ocasionar perdas ainda maiores. Leonardo enfatiza que "a informação é o principal subsídio para a tomada de decisão mais assertiva".
Produtora espera chuva para plantar
Em Selvíria, no Mato Grosso do Sul, a produtora rural Joana Arantes também aguarda chuva para dar andamento ao plantio da soja. Em uma área de cultivo de 1.300 hectares, a leguminosa já está plantada na parte irrigada. Na área de sequeiro, apenas um trecho foi semeado, enquanto o restante aguarda a chegada da chuva.
Joana explica que o manejo adotado na propriedade inclui a palhada como cobertura, o que ajuda a preparar o solo, segurando a umidade e diminuindo a temperatura. Ainda assim, o ideal é que chova na área dentro de uma semana. "Se não chover, as plantas morrerão e teremos que fazer um replantio", comenta. E completa: "o agricultor vive na esperança".
Com uma média de produtividade de 60 sacas por hectare, a produtora acredita que a tendência é de queda neste ano, mas ainda não perdeu a confiança de bons resultados, mesmo com o El Niño ativo. Ela lembra que, no ano passado, também houve um veranico neste período e depois não faltou chuva. A colheita na propriedade está prevista para o final de março do ano que vem.
Calor piora a falta de umidade
No momento, o maior problema de Mato Grosso do Sul é a falta de chuva potencializada pelas altas temperaturas. O centro-norte do estado é a região que mais tem sofrido com as condições desfavoráveis, que resultam no atraso do plantio da soja.
"As ondas fortes de calor fazem com que a umidade do solo dure menos do que nós prevíamos", afirma Dener Melotto, engenheiro agrônomo do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul.
O especialista explica que nas lavouras onde o plantio já foi executado, são registrados tombamentos de plantas por escaldadura, morte de plântulas em início de germinação e grande perda de vigor de sementes que estão em um ambiente quente e seco. "Em alguns casos, o replantio se torna necessário".
Em lavouras já estabelecidas, Melotto destaca que o número de plantas está menor do que o planejado, principalmente em áreas onde o solo não tem cobertura de palhada.
O plantio parou por conta da falta de água no solo e também pelas previsões não indicarem chuvas suficientes para os trabalhos. "Por mais que utilizemos tecnologias que ajudem na falta de água, como o plantio direto sobre a palhada, mesmo assim, já secou até onde tem palha". Com o solo a 50ºC e seco, sem nenhuma umidade, a semente não aguenta e tem perdido viabilidade.
"A previsão de pouca chuva faz com que os produtores não arrisquem muito. Nós precisamos que as chuvas sejam retomadas para que eles tenham coragem de plantar", complementa o engenheiro agrônomo.