Araguaia, o novo Eldorado de Mato Grosso

Publicado no dia 02/10/2023 às 10h57min
Por Suelme Fernandes Araguaia, o novo Eldorado de Mato Grosso

  A região de Mato Grosso chamada de Araguaia mesmo já sendo conhecida desde o Séc. XIX, começou efetivamente a ser conquistada como parte de um planejamento de integração nacional com a campanha chamada Marcha para Oeste do Governo de Getúlio Vargas no ano de 1943, a criação da Fundação Brasil Central e a Expedição Roncador-Xingu.

O programa varguista tinha o objetivo de desbravar e colonizar as zonas compreendidas entre os altos rios Araguaia, Xingu e do Brasil Central e Ocidental.

Incialmente o projeto fundou os atuais municípios de Aragarças no estado Goiás e Nova Xavantina em Mato Grosso que serviram de base da expansão.

Nos anos 60/70, os governos militares começaram a abertura e depois pavimentação de uma estrada denominada de BR-158, que inicia-se na cidade próxima da Fronteira Brasil-Uruguai Santana do Livramento, passando pelos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso alcançando o município de Redenção no Pará.  

A rodovia possui 2.973 quilômetros de extensão e faz um corte longitudinal no coração do Brasil de norte a sul.

Na década de 1960 as terras da região nordeste de Mato Grosso, também conhecida como Araguaia passaram a ser intensamente compradas por grupos empresariais com intenção de estabelecer projetos de colonizações privadas, formando empresas agropecuárias que obtiveram acesso a incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDAM e créditos subsidiados pelo Banco de Desenvolvimento da Amazônia BASA e Banco do Brasil.

Bons exemplos desses investimentos privados foram as empresas agropecuárias Suiá Missú e Codeara.

Dentro dessa estratégia oficial de ocupação ao longo da BR-158, o INCRA implantou 84 assentamentos rurais de Reforma Agrária que estão atualmente em 19 municípios do Araguaia com 17.280 famílias, numa área total de 1.417.786 hectares. Com destaque para Confresa que possui 16 assentamentos.

“Na década de 1960 as terras da região nordeste de Mato Grosso, também conhecida como Araguaia passaram a ser intensamente compradas por grupos empresariais com intenção de estabelecer projetos de colonizações privadas”
Através dos contatos de pacificação dos sertanistas irmãos Claudio e Leonardo Vilas-Bôas no projeto Brasil Central nos anos 40 e da Funai, foram demarcadas 18 grandes Terras Indígenas TI, a saber: Seis TI Xavante, três TI Kayapó, duas Karajá, Krenak, Navarute, Tapirapé, Kisêdje e a monumental confederação de índigenas denominada Parque Nacional do Xingú, com inúmeras etnias, Wauja, Trumal, Yavalapiti, Mehinaku, Aweti, Yudjá, Kisêdje, ikpeng, Matipú, Kuikuro, Nahukua, Tapayuna, Kaiabi, Kamayrurá, Kalapalo.

Somente o Parque do Xingú possui uma área de 2.640.777 mil hectares.

Ao todo as áreas indígenas da região somam 5.147.822 hectares e correspondem a cerca de 30% da região do Araguaia.

Com esses impulsos iniciais colonizatorios de desenvolvimento logístico e populacional do Estado brasileiro, a região Araguaia mato-grossense foi aos poucos se desenvolvendo e se estruturando com o surgimento de muitos municípios pequenos na década de 1990.

Atualmente a região inteira possui uma extensão territorial de 170 mil km² divididas em 22 municípios: Água Boa, Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia, Campinápolis, Canabrava do Norte, Canarana, Cocalinho, Confresa, Gaúcha do Norte, Luciara, Nova Nazaré, Nova Xavantina, Novo Santo Antônio, Porto Alegre do Norte, Querência, Ribeirão Cascalheira, Santa Cruz do Xingu, Santa Terezinha, São Félix do Araguaia, São José do Xingu, Serra Nova Dourada e Vila Rica.

Na região mais impactada pela falta de asfalto da BR-158, chamada de microrregional norte Araguaia ou baixo Araguaia é composta dos seguintes municípios:  Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia, Luciara, Santa Terezinha, Confresa, Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, Vila Rica, Santa Cruz do Xingu e São José do Xingu, perfazendo um total de 119.443 habitantes.

Em termos demográficos, os dados do último censo do IBGE-2022 apontam uma população próxima de 281 mil hab., com densidade demográfica de 1,6 habitantes por quilômetros quadrados.

Pra se ter uma ideia da baixa ocupação dessa região por falta de infraestrutura em geral, a média de densidade de Mato Grosso é de 4 hab. por km² e a brasileira é de 24.

A região inteira ocupa um território que equivale a 18,8% da área total do Estado.

A região se desenvolveu tanto nesses últimos 30 anos que oito cidades do Vale do Araguaia integram a lista dos municípios mais ricos do Brasil.

 O primeiro colocado é Querência, na 18ª colocação com valor de produção de 2,1 bilhões de reais, seguindo por Canarana com R$ 1,4 bi (37º), São Félix do Araguaia com R$ 1,4 bi (38º), Gaúcha do Norte com R$ 1,1 bi (51º), Água Boa com R$ 828 mi (78º), São José do Xingu com R$ 749 mi (89º), Novo São Joaquim com R$ 724 mi (93º) e Bom Jesus do Araguaia com R$ 702 mi (97º).

Com a chegada do asfaltamento do trecho final da BR 158, da ferrovia FICO Ferrovia de Integração do centro oeste no trecho entre Mara Rosa GO até Água Boa MT interligando com a Ferrovia Norte Sul e os investimentos nas rodovias estaduais pelo Governo do Estado, como as MTs 020, 100, 110, 109 e 326, podemos ter uma explosão de crescimento nos próximos 10 anos.

A que se considerar ainda que o Araguaia possui muitas terras com pastagens antigas remanescentes para serem incorporadas na agricultura sem precisar desmatar novas áreas,

Sendo assim, a tendência para os próximos anos é que o Araguaia possa se tornar rapidamente na segunda maior região produtora de grãos do Mato Grosso, se afastando de vez do apelido de Vale dos Esquecidos.

Como exemplo, a cidade de Canarana prevê que sua área plantada saia de 320 mil hectares com soja na safra 2021/22, para 400 mil hectares nos próximos anos.

Já a área com milho de segunda safra deve ultrapassar 200 mil hectares e o gergelim, do qual é o maior produtor nacional da cultura, deve ocupar mais de 100 mil hectares.

A região nordeste de Mato Grosso é considerada a nova fronteira agrícola ou novo eldorado do, especialmente em produtos como milho, gergelim, gado e soja.

Com a pavimentação da BR-158 e a construção do contorno à aldeia, será possível integrar futuramente a rodovia à Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), facilitando todo o escoamento da produção do Centro-Oeste brasileiro pelos portos do Arco Norte.

O novo contorno da BR 158 prevê a pavimentação de 195,42 quilômetros divididos em dois lotes, em um orçamento global na casa dos R? 670 milhões.

Mato Grosso desde sua fundação em 1748 surgiu com o signo do progresso e de ser o celeiro de alimentos do mundo e aos poucos, esse sonho utópico vai s e tornando uma realidade.

Só espero que possamos ter junto com essa riqueza toda o incentivo à agricultura familiar como produção diversificada e específica e uma maior distribuição de renda e agregação de valor das comodities.

Certo estava o autor do hino de Mato Grosso, Dom Aquino Corrêa que em 1919 deixou na letra uma professia: “Eis a terra das minas faiscantes. Eldorado como outros não há.”

Suelme Fernandes é mestre em História e articulista político

Fonte: RD NEWS

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