80% dos antibióticos usados na pecuária não têm finalidade terapêutica, diz estudo
Proteção Animal Mundial diz que isso coloca em risco não apenas a saúde humana, mas também o bem-estar animal
No seminário “Enfrentando a resistência antimicrobiana: evidências para avançar em uma saúde única”, a Proteção Animal Mundial discutiu desafios relacionados à resistência antimicrobiana (RAM) com especialistas e profissionais de saúde. O evento contou com o lançamento do estudo desenvolvido em parceria com a Universidade de Bolonha sobre o uso de antibióticos na pecuária industrial intensiva e os efeitos da RAM na saúde humana, meio ambiente e sociedade.
De acordo com a pesquisa, realizada no Leste Asiático e Pacífico, Europa e Ásia Central, América Latina e Caribe, Oriente Médio e o Norte da África, América do Norte, Sul Asiático e África Subsaariana, o uso de antimicrobianos em animais de criação tem ultrapassado o consumo na medicina humana, representando entre 60% e cerca de 75% do uso global de antibióticos.
Conforme a entidade, “isso é motivo de preocupação para a saúde pública, uma vez que a RAM torna-se cada vez mais difícil de tratar, causando um aumento significativo do custo global de saúde e, em muitos casos, em fatalidades evitáveis”.
O levantamento se concentrou nas três principais espécies terrestres (bovinos, suínos e aves) e nas seis principais espécies aquáticas (carpa, bagre, salmão, camarão, tilápia e truta) criadas em fazendas industriais, com base nas estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
“Os resultados desse estudo são um alerta urgente para a problemática do uso de antibióticos na pecuária industrial intensiva. A resistência antimicrobiana é uma ameaça à saúde pública e precisa ser enfrentada com ações concretas e imediatas”, enfatiza Karina Ishida, coordenadora de Campanhas de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.
O material aponta que 80% dos antibióticos utilizados em animais de criação é administrado em concentrações não terapêuticas. “A disseminação da RAM pode ser diretamente atribuída ao uso não terapêutico de antibióticos em animais, como promotores de crescimento e de forma preventiva. Isso coloca em risco não apenas a saúde humana, mas também o bem-estar animal e o meio ambiente”, completa a executiva.
O levantamento revelou ainda que, entre 2018 e 2020, as fazendas industriais foram responsáveis ????pela produção global de aves (74,4%), suínos (66,9%) e bovinos (41,9%), com consumo anual de 80.541 toneladas de antibióticos, sendo que 58,5% (47.156 toneladas) foram utilizadas nessas fazendas.
“É essencial que o governo, a indústria e a sociedade como um todo trabalhem juntos para adotar práticas sustentáveis ????e responsáveis ????na produção animal, a fim de garantir a preservação da eficácia dos antibióticos e proteger a saúde de todos”, completa Karina.
Impacto
A RAM causou em 2019, a nível global, 403 mil mortes atribuíveis e 1,6 milhão de mortes associadas, gerando uma carga de 13,65 milhões de Disability-Adjusted Life Years (DALYs) – número de mortes e anos de vida ajustados à deficiência) atribuíveis – e 56,84 milhões de DALYs associados.
O estudo conclui que é possível reduzir significativamente o uso excessivo de antibióticos em fazendas industriais globalmente nas próximas décadas, mesmo após o crescimento populacional e do comércio internacional de produtos de origem animal.
A experiência europeia demonstra que essa redução é viável, e o cenário mais racional de uso de antibióticos pode levar a economias globais de até 17,7 trilhões de dólares entre 2019 e 2050 em perdas de produtividade e custos associados à resistência antimicrobiana.
Para mais informações e detalhes sobre o estudo, acesse aqui.
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