Produtores gaúchos apostam no trigo para recuperar dívidas
Regiões que não semeavam a cultura ou dedicavam pouca área estão apostando no grão nesta safra
A semeadura do trigo no Rio Grande do Sul alcançou, nesta semana, os 80%. Os dados são do Informativo da Emater-RS, que também destaca que as chuvas em excesso das últimas semanas atrasaram o avanço dos trabalhos no campo. A região mais adiantada do estado é o Noroeste, onde municípios como Ijuí e Santa Rosa já alcançam os 90%.
A Serra está mais atrasada, com plantio no início. Com a umidade, também foram antecipadas as aplicações de herbicidas para controle de invasoras e adubação nitrogenada. Segundo o órgão, as plantas que se encontravam mais amareladas já estão em recuperação e o desenvolvimento é considerado bom.
Os produtores gaúchos estão plantando a maior safra de trigo desde 1980, apostando nos bons preços impulsionados pela crise internacional entre Rússia e Ucrânia, dois grandes fornecedores mundiais do cereal. Outro fator que fez aumentar a área para 1,41 milhão de hectares, foi a necessidade de garantir o pagamento das dívidas decorrentes da quebra da safra de verão e se monetizar para o ciclo 22/23.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Paulo Pires, destaca que as perdas na safra de verão superaram os 40% em soja e milho e, mesmo com o avanço dos custos de produção, o aumento do valor da saca motivou os produtores. “É uma oportunidade de recuperar as perdas que tivemos e a expectativa é a melhor possível. Agora estamos de olho no clima. O trigo não gosta de muita chuva e o La Niña deve manter o clima mais seco. O que não podemos ter é geada de forma tardia. Tudo se encaminha para uma safra histórica”, projeta o executivo.
“A gente vai ter um bom escalonamento da cultura até diminuindo o risco por geadas” — Gustavo Posser
O trigo também passa a ganhar espaço em regiões como a zona sul gaúcha, que, tradicionalmente, não plantava o cereal Na safra 21/22 devem ser 17 mil hectares na região de Pelotas. O agrônomo de campo e supervisor comercial que atende a região, Gustavo Posser, aponta que os trabalhos começaram em maio, mas, com as chuvas, a janela se estendeu por mais tempo. “Isso até é bom porque a gente vai ter um bom escalonamento da cultura até diminuindo o risco por geadas”, explica. No sul gaúcho, muitos produtores ainda estão em atraso devido a muitos dias sem visibilidade.
O período ideal recomendado para a conclusão do período de semeadura é 20 de julho. “A cultura não tolera encharcamento e, aqui no estado, temos trigo em terras baixas, o que depende de drenagem o que está mais difícil. O ponto positivo é que as cultivares de trigo evoluíram muito e o triticultor tem mais opções para driblar as intempéries como variedades mais tolerantes a alumínio para solos não tão bem corrigidos e tolerância a giberela que impacta bastante a cultura”, completa.
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Expectativa da Fecoagro sobre o trigo
A expectativa é que o Estado colha cerca de 3,99 milhões de toneladas de trigo na atual safra. Caso se confirme, a alta será de 11,9%. A Fecoagro projeta que, nos próximos anos, o Rio Grande do Sul pode chegar a 2 milhões de hectares, baseado nas oportunidades de mercado. “Nossa área de trigo tem aumentado há quatro safras. Somos baseados no mercado internacional.
No ano passado, produzimos 3,5 milhões de toneladas e exportou 2,9 milhões de toneladas. Esse é um número interessantíssimo. Nós temos políticas tributárias que nos tiram a competitividade para exportar trigo para São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro. Então estamos produzindo trigo hoje para o consumo da indústria moageira, setor de alimentação animal e o restante exportando para mais de 30 países”, reforça Pires.