Brasil pode cumprir metas climáticas e tornar-se líder mundial na produção sustentável

Publicado no dia 26/04/2022 às 16h25min
Ex-presidente da Embrapa e pesquisador sênior da entidade lembra que país tem novamente a chance de mostrar liderança global em inovações que ajudem a elevar a produtividade e conter emissões

O Brasil fez rápidos progressos para se tornar um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, exibindo alguns dos sistemas e tecnologias agrícolas mais avançados que existem atualmente.

Muito disso é atribuído a um forte legado de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que recebe até um terço do apoio público investido na agricultura.

Com o enfrentamento das pressões e complexidades criadas pelo aquecimento global, bem como novas oportunidades comerciais com a União Europeia, o país tem a chance de mais uma vez mostrar liderança global no desenvolvimento e ampliação de inovações que se adaptam a condições extremas, ao mesmo tempo em que limitam as emissões de gases de efeito estufa (GEE).


*Maurício Lopes foi presidente da Embrapa por duas vezes consecutivos, de outubro de 2012 a outubro de 2018. Atualmente é membro do Grupo Assessor ao Diretor Geral da FAO, em Roma, do Conselho Consultivo do Sistema CNA/Senar e pesquisador da Embrapa Agroenergia

Em muitos aspectos, o Brasil apresenta vantagens no caminho para a intensificação da agricultura sustentável, graças a suas fortes instituições de pesquisa e cultura de empreendedorismo. E os aprendizados bem-sucedidos do passado podem ser o trampolim que permita ao setor continuar atendendo a crescente demanda sem comprometer sua riqueza de recursos naturais.

Um exemplo nesse sentido é a iniciativa pioneira Balde Cheio, lançada pela Embrapa em 1998 para oferecer treinamento e especialização técnica aos produtores de leite no campo, evoluiu nas últimas duas décadas para melhor atender às circunstâncias de mudança dos produtores, passando de palestras para sessões ou workshops práticos e até mesmo cursos online, na esteira da pandemia.

Isso ajudou a expandir a adoção de tecnologias como a irrigação de pastagens e práticas para recuperar a fertilidade do solo e a saúde animal, que melhoraram tanto a conservação do solo e da água, quanto a qualidade do leite e a segurança alimentar. Enquanto isso, os agricultores familiares que aderiram ao programa chegaram a triplicar a produção de leite.

Ao alavancar a forte liderança da Embrapa, o Brasil pode ajudar a ampliar este modelo de treinamento para outras regiões e países (como a expansão de iniciativas semelhantes na Colômbia e na Guatemala), e para outros produtos básicos e sistemas de produção, como o Bule Cheio, para café.

Na outra ponta da escala, a empolgante cultura de startups brasileiras está produzindo inovações como a Aqua, uma plataforma digital de monitoramento de irrigação desenvolvida pela Agrosmart, que foi inspirada pelo impacto da crise da água 2014-2016 no setor agrícola nacional.

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Nos últimos cinco anos, a plataforma Aqua ajudou a economizar cerca de 40 bilhões de litros de água desperdiçados na irrigação e mais de 11 mil toneladas de gases de efeito estufa. Os agricultores relataram que a economia de eficiência reembolsou o valor da tecnologia no primeiro ano. Foi particularmente popular entre os clientes mais jovens e instruídos, que são mais alfabetizados digitalmente e conscientes sobre o potencial da tecnologia. A ferramenta que ajuda os agricultores a melhorar a sustentabilidade economizando água e energia expandiu sua operação na América Latina com a aquisição do BoosterAgro.

O principal aprendizado da Agrosmart é que o agrupamento de serviços como dados, ciência e previsão do tempo com treinamento pode ajudar a alcançar mais agricultores com tecnologia que pode melhorar a sustentabilidade das suas operações.

Finalmente, com mais sessões formativas e novas tecnologias, o Brasil pode fazer pleno uso dos benefícios dos sistemas integrados pecuários, silvícolas e de plantações.

A produção agrícola combinada de animais e plantações tem crescido em popularidade desde que o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 2009, pois o uso de certos cultivos pode ajudar a recuperar solos degradados e evitar emissões ligadas à conversão de fresh land (terrenos frescos, em português) para a agricultura.

Essa abordagem não só é fulcral para sustentar ecossistemas-chave no Brasil, incluindo o Cerrado, 60% do qual está degradado, mas também oferece uma oportunidade para armazenar carbono.

A porção de terra utilizada nos sistemas integrados de cultivo e pecuária aumentou em quase 6 milhões de hectares entre 2010 e 2015, armazenando 21,8 milhões de toneladas de CO2.

Equipar mais agricultores para adotar sistemas integrados de produção ajudaria a reutilizar mais terra, reduzir as emissões e continuar melhorando a produtividade, o que dará uma enorme contribuição para o cumprimento das metas climáticas do Brasil e do mundo.

Uma forte liderança, uma cultura de inovação e modelos testados para colocar a tecnologia nas mãos dos agricultores ajudou o Brasil a se tornar o celeiro do mundo. Esses mesmos valores podem ajudar o Brasil a liderar o mundo na produção sustentável de alimentos.

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Fonte: Canal Rural

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