Não mudarei meu posicionamento, diz aluno hostilizado em escola por defender agronegócio

Publicado no dia 07/04/2022 às 12h03min
Em entrevista ao Canal Rural, o estudante Vittorio Furlan Vieira falou sobre o episódio em que foi repreendido pelo professor depois de defender o agronegócio durante palestra de Sonia Guajajara

 

 

Em entrevista ao Canal Rural, o estudante Vittorio Furlan Vieira, de 18 anos, falou sobre o episódio em que foi repreendido pelo professor depois de defender o agronegócio durante palestra de da líder indígena Sonia Guajajara.

Segundo Vieira, que estuda na escola Avenues, em São Paulo, o tema da palestra era “Gender Equity” (equidade de gênero). No entanto, durante sua apresentação, a indígena teria feito críticas ao agronegócio e  defendido a tomada de terra privada.

O estudante diz que não se dirigiu ao professor Messias Basques, que o teria destratado após questionar o teor da apresentação.

“Em nenhum momento eu falei com o professor. Eu fiz a pergunta para a Sonia”, conta. Segundo Vittorio Furlan Vieira, em nenhum momento da pergunta ele faltou com respeito. “Eu posso ter sido imaturo, mas não desrespeitoso”, afirma.

“A minha maior indignação foi no momento em que ela [Sonia] começou a falar sobre a distribuição de terra para as pessoas e os indígenas. Isso me incomodou profundamente, essas terras têm donos”, disse.

Segundo o estudante, a família dele vem da agropecuária, além de ter vários amigos que têm pais trabalhando no setor. Ele também conta que está começando a empreender na área. “Estou fazendo uma startup, uma fintech do agronegócio. Eu tenho conhecimento na área, e eu gosto bastante”.

Vieira disse que não se sentiu intimidado pela situação. “Os princípios formam o caráter e isso eu não vou mudar”. De acordo com Vieira, seus pais teriam ficado indignados com o episódio, mas ele não falou sobre medidas que pretendem tomar.

O professor Messias Basques foi procurado pelo Canal Rural, mas não foi encontrado para conversar sobre a situação.

Entenda o caso
Durante palestra da índia Sonia Guajajara, realizada na escola Avenues, o estudante Vittorio Furlan Vieira, que participava do debate, foi repreendido pelo professor Messias Basques, após fazer questionamentos a Sônia sobre críticas feitas por ela ao agronegócio brasileiro sobre distribuição de terras e uso de defensivos agrícolas.

Na ocasião, o professor se antecipou a Sônia Guajajara e repreendeu o estudante sobre os questionamentos.

“…Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. No dia em que você quiser discutir com a gente, traga o seu diploma e a sua opinião fundamentada em ciência, aí você discute com um especialista em Harvard”, teria dito o professor, segundo o jornal Gazeta do Povo.

Repercussão
A atitude do professor gerou desagrado em uma das principais entidades do setor agropecuário. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse, em comunicado, que repudia a atitude do professor, que segundo a entidade, foi constrangedora.

“Uma das premissas básicas de um ambiente escolar é a pluralidade de opiniões. Professores e educadores precisam estar preparados para a diversidade de ideias na sala de aula. Só assim a escola conseguirá formar cidadãos que saibam conviver em um ambiente democrático e com espírito de coletividade”, diz o comunicado da CNA.

O sistema Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faesp/Senar-SP) emitiu nota repudiando a atitude do professor da Avenues em relação ao aluno, qualificando-a de “desrespeitosa”. “O professor deveria se atualizar sobre o fato de que a agropecuária brasileira utiliza amplamente o que existe de mais avançado em ciência no mundo. O resultado são os altos índices de produtividade no campo, tornando o país um dos celeiros do planeta”, diz o texto.

Escola se pronuncia
Atendendo aos questionamentos feitos pelo Canal Rural, a escola Avenues disse que a discussão ocorreu na semana passada e que tanto aluno, quanto professor, agiram de maneira inadequeda.

“Durante o momento reservado a perguntas no evento da semana passada, um aluno discordou da Sra. Guajajara de maneira desrespeitosa. Em seguida, um professor corrigiu o aluno de uma maneira que também foi inapropriada. Além disso, um aluno gravou a sessão sem autorização, e um trecho foi divulgado publicamente fora da nossa comunidade. Na Avenues, quando ocorre um conflito, trabalhamos diretamente com as partes envolvidas, de maneira reservada, para aprendermos juntos e nos respeitarmos. Infelizmente, essa questão veio a público de forma imprópria, e agora se torna necessário esclarecer os eventos”, disse a escola, em nota.

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A escola ainda ressalta que a presença da líder indígena foi aprovada pela equipe da Avenues, pois a presença dela complementa os estudos da instituição sobre pegada ambiental e aumenta a visibilidade de lideranças femininas.

“Reconhecemos que sempre haverá opiniões diversas e trabalhamos para criar um espaço seguro onde cada membro da nossa comunidade possa explorar esses pontos de vista e chegar a um lugar de entendimento de maneira respeitosa. Somos gratos por vocês nos terem confiado a educação de seus filhos. Agora, agradeço sua confiança para que possamos resolver situações complexas da melhor forma possível”, complementa a escola.

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Fonte: Canal Rural

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