Argentina aumenta imposto de exportação de óleo e farelo de soja
A Argentina é o maior exportador de óleo e farelo de soja do mundo; o imposto, chamado de "retenciones", passou de 31% para 33%
Com o discurso de tentar controlar a inflação, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, oficializou neste fim de semana o aumento das tarifas de exportação de farelo e óleo de soja, de 31% para 33%.
O aumento da tarifa de exportação, popularmente conhecida como “retenciones“, tem validade até o dia 31 de dezembro deste ano.
Com a suspensão do spread de 2%, os dois produtos passam a ter a mesma taxa de exportação da soja em grão.
A Argentina é o maior exportador de óleo e farelo de soja do mundo. O país deverá responder por 41% das exportações globais de farelo de soja e 48% das exportações mundiais de óleo de soja na safra 2021/22, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Por meio de suas redes sociais, ministros e secretários do governo argentina aderiram à campanha “Baixa inflação”, em apoio ao plano de ação apresentado pelo presidente Alberto Fernández.
“#BaixarInflação é uma prioridade. Por isso, no quadro do plano de ação apresentado pelo presidente, vamos trabalhar em conjunto com os governadores e com todos para que as medidas cheguem a todos os cantos do país”, publicou o chefe de gabinete, Juan Manzur, em uma rede social.
Na semana passada, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina suspendeu o registro de vendas de exportação de óleo e farelo de soja.
A medida foi tomada no início da colheita para evitar que a mercadoria saísse do país com a tarifa anterior. O governo estima arrecadar aproximadamente US$ 350 milhões até o fim do ano com a medida.
Segundo o governo, apenas 11 empresas exportadoras de subprodutos de soja serão atingidas, das quais 8 representam 95% do total exportado. “A decisão não afeta o produtor de trigo, milho, girassol ou soja”, comentou o ministro da Agricultura da Argentina, Julián Domínguez.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Argentina subiu 4,7% em fevereiro de 2022, em comparação com a inflação mensal de janeiro de 3,9%, marcando o maior aumento em quase um ano.
Trigo
O governo argentino também formalizou a criação de um fundo fiduciário estabilizador de trigo para conter a escalada dos preços do produto no país.
A Casa Rosada justificou que a medida busca minimizar a escalada de preços dos alimentos em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que vem impactando as cotações do trigo, milho, girassol e seus derivados. No caso do trigo, o preço subiu 37% desde o início do conflito na Europa.
Fernández solicitou a “estabilização o preço do trigo em valores pré-guerra enquanto durarem as consequências do aumento devido ao conflito”. O presidente da Argentina também pediu a dissociação do preço argentino dos internacionais.
Segundo Fernández, o governo irá controlar a fiscalizar preços e que haverá uma “batalha contra os especuladores”.
“O objetivo é o de aumentar o poder de compra dos salários”, afirmou.
Repercussão
A taxação não foi bem aceita entre os produtores argentinos.
Em entrevista ao jornal Clarín, Nicolás Pino, presidente da Sociedade Rural Argentina, disse que a guerra que o presidente argentino diz ter lançado contra a inflação é mais como uma batalha contra a produção nacional. “São medidas que não resolvem nenhum dos problemas problemas existentes, mas continuam a enviar sinais ruins para o setor. A inflação de alimentos é combatida com mais oferta e essas medidas não condizem com isso”, disse.
Em todo o país, entidades e produtores estão se organizando para uma grande manifestação contra as “retenciones” em Buenos Aires.
A Câmara da Indústria Oleaginosa da República Argentina (Ciara) rejeitou categoricamente a medida, por considerar que ameaça “a industrialização da soja no país”. A instituição estuda a possibilidade de entrar na Justiça contra o decreto.
Já o presidente da Associação da Cadeia da Soja Argentina, Luís Zubizarreta, disse à imprensa local que a medida significa retirar “a competitividade do setor que tem mais potencial na Argentina”.