Incêndio na Argentina impacta em US$ 600 milhões
Os incêndios já eliminaram a produção florestal, pecuária, cítrica, erva-mate e arroz
Os focos de incêndio na Argentina são 865% maiores do que no ano anterior. O registro passa de 11.170 focos desde o dia 01 de janeiro até o dia 23 de fevereiro. Neste mesmo período, em 2021 o registro pelo programa Queimadas do INPE foi de 1.157 focos de incêndio, sendo 2022 o ano com o maior número de registros no período, seguido de 2002 onde foram detectados 5.919 focos no mesmo período.
Detecção dos focos de incêndio por satélite nas últimas 48h (marcadores coloridos). E pluma de fumaça (tons de marrom). Os dados da camada de fumaça são apresentados com 2 dias de atraso (o mapa acima mostra a fumaça em 22/02/2022)
O drama na agricultura deixado pelos incêndios em Corrientes, o granizo em Mendoza e a seca na região da soja não comovem a AFIP (órgão econômico argentino) que ofereceu apenas a "emergência agrícola", um procedimento considerado paliativo, escasso e burocrático. Os incêndios já eliminaram a produção florestal, pecuária, cítrica, erva-mate e arroz, com perdas estimadas de US$ 60.000 milhões, segundo a Sociedade Rural de Corrientes
Uma chuva de granizo em Mendoza deixou perdas totais para um grande número de produtores de vinho, que solicitaram a declaração de emergência nas áreas afetadas. A seca e o calor de janeiro na região obrigaram a cortar as estimativas de safra de milho em 8 milhões de toneladas, que passou de 56 milhões para 48 milhões de toneladas, e a safra de soja em 5 milhões, de 45 milhões para 40 milhões de toneladas .
Argentina tem uma história de fogo que existe desde antes da colonização. O clima é propenso ao fogo (especialmente em ecossistemas que têm uma estação seca marcada como o Parque do Chaco ou a Patagônia) e seus solos são férteis e geram muita biomassa, razão pela qual os sistemas de controle, monitoramento e alerta precoce devem ser fortalecidos diante de condições naturais adversas.
A grande região de Reconquista, na província de Santa Fé, no centro-leste do país, tem impactos irreversíveis no rendimento estimado da soja, além de ser uma das regiões afetadas pelos incêndios pelo monitoramento via satélite. Na estimativa estatística realizada pelo Sistema de Prognósticos de Rendimentos Simulados (ProRindes) do Serviço Meteorológico Nacional a região de Reconquista tem projeções para apenas 14% da média histórica, com mínimos de apenas 1%, e no cenário mais otimista a projeção dos rendimentos atingem apenas 31% da média histórica para esta safra de 2021/22.
Das 14 áreas monitoradas, apenas 3 têm fortes indícios de rendimentos acima da média histórica. Sendo elas Tandil, localizada na província de Buenos Aires, Pehuajó também província de Buenos Aires e Laboulaye na província de Córdova.
Em relação ao milho, o cenário não é tão devastador quanto o da soja, entretanto também são pouquíssimas áreas onde o prognóstico é de rendimentos dentro ou superior a média histórica.
O alívio para a região poderá vir nestes próximos dias com a previsão de chuvas. Um dos fatores que estão contribuindo para o retorno das chuvas no sul da América do Sul é a fase da oscilação Madden-Julian.
De forma resumida a Oscilação Madden-Julian é um acoplamento em larga escala entre a circulação atmosférica e a convecção atmosférica profunda tropical, que dura entre 30 e 60 dias que promove ou diminui as condições de chuvas em determinadas regiões em todo o planeta.
Devido a uma mudança da oscilação, a influência no movimento vertical tropical mudou de convecção (de baixo para cima) para subsidência (de cima para baixo) no centro do Brasil, o que reverte as fortes chuvas históricas do verão de 2021-22 para um padrão muito mais seco até o fim deste verão. O clima seco induz uma alta pressão de alto nível sobre o Sudeste do Brasil que na perspectiva de 15 dias é compensado por uma baixa pressão úmida inclinada sobre a Argentina e sul do Brasil, onde surge uma mudança no padrão chuvoso.
E isso também possibilita a maior incursão do ar quente e úmido trazido pelos ventos conhecidos como Jatos de Baixos Níveis - os famosos rios voadores - da região amazônica até o sul do país e norte da Argentina. Contribuindo então para a formação de chuvas e servindo como combustível para as frentes frias. (Agrotempo)
Até o dia 01/03 os acumulados poderão superar os 100 mm em algumas áreas ao norte da Argentina e sobre o RS. Entretanto, não há perspectiva de muitas chuvas no norte do Paraguai nesses próximos dias, região que também vem enfrentando adversidades por conta dos incêndios e estiagem prolongada.
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Além da perspectiva de mais chuvas ao longo dos próximos dias, o Serviço Meteorológico Nacional emitiu o alerta de nível amarelo para algumas regiões ao norte do país nesta quinta-feira (24/02), com a possibilidade do registro de tormentas pontualmente fortes. Essas tormentas também poderão ocorrer sobre o oeste do RS.
*Análise elaborada pela equipe Agrotempo