Crise hÃdrica pode paralisar hidrovia Tietê-Paraná, diz ONS
Segundo diretor geral da instituição, outra alternativa seria a redução do calado para que a situação não se agrave ainda mais
O diretor geral do Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, disse nesta terça-feira, 15, em audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, que o órgão propôs a redução do calado ou paralisação da hidrovia Tietê-Paraná. A medida é uma das três ações sugeridas pela ONS para enfrentar a crise hídrica, tema da audiência, decretada na Bacia Hidrográfica do Paraná.
Ciocchi não entrou em detalhes de quanto seria a redução ou o período de duração da possível paralisação, mas disse que deveria acontecer a partir de 1º de julho. Também salientou que se não forem tomadas essas ações, a situação hídrica e, consequentemente, a geração de energia para 2022 e dos anos seguintes estará comprometida.
“Se nós não adotarmos essas ações, nós chegaremos no próximo ano, 2022, em uma condição muito frágil para atender as necessidades de energia daí para a frente. Nós entendemos que são ações fundamentais”, afirmou o diretor geral da ONS.
A proposta tem sido tratada a nível federal e estadual, informou Ciocchi. “Essa ação nós estamos discutindo no nível federal, por meio da ação do Ministério da Infraestrutura, do Dnit [Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes], conversamos também com o governo do estado de São Paulo e seus agentes, para que a gente possa fazer isso de uma forma controlada e de uma forma planejada”.
Fonte: Hidrovia Tietê-Paraná
As outras duas ações envolvem reduzir as restrições de vazão nas usinas de Jupiá e Porto Primavera, junto com a flexibilização da operação da bacia do Paraná, e a flexibilização da operação dos reservatórios do rio São Francisco. As propostas foram apresentadas no Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico.
Sem impactos na Agricultura
Na mesma comissão, também participou o Superintendente de Regulação da Agência Nacional de Águas (ANA), Patrick Thadeu Thomas. Segundo ele, a agência não “vislumbra problema de insuficiência de água em termos de quantidade, para atender os usos consuntivos, como por exemplo a irrigação e o abastecimento público”.
No entanto, Thadeu ressaltou que deve haver impactos na navegação, em especial na hidrovia do Tietê-Paraná, reafirmando a hipótese de uma paralisação.
“Pior estação úmida em 91 anos”
A precipitação de chuvas no Brasil foi classificada pelos participantes como a pior dos últimos 91 anos. O diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone da Nóbrega, destacou essa informação durante a comissão.
“Vivemos a pior estação úmida no país nos últimos 91 anos. Esse período úmido, que foi de setembro de 2020 e se encerrou em abril de 2021, foi o pior período úmido do país de toda essa série histórica de 91 anos”, disse o responsável pela Aneel.
O coordenador geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), Gilvan Sampaio, apresentou um comparativo dos déficits de chuva em 2001-2002 e 2020-2021. O quadro mostrado é de uma piora em relação ao início do século. Em 2001-2002, o Brasil passou por uma situação de crise energética que resultou em racionamento.
“Nós podemos observar que a situação agora é de um déficit de chuvas maior do que aqueles ocorridos quando tivemos a crise energética em 2001- 2002. Então de fato a situação é extrema”, completou o representante do Inpe.
*Sob supervisão de Letícia Luvison