Brasil se divide entre pior seca e maior cheia dos últimos 100 anos
Enquanto o rio Negro atinge o maior nível histórico, falta de chuva nas principais bacias hidrográficas aponta para cenário de crise hídrica
Contrastes climáticos: o Brasil tem a maior cheia e a maior crise hídrica em 100 anos. Enquanto o Sudeste enfrenta problemas com a estiagem, o que já aumentou o custo de energia elétrica, no Amazonas, o Rio Negro alcançou a sua maior marca em mais de 100 anos com nível de quase 30 metros.
Segundo especialistas, o que impressiona é que cada centímetro de água que sobe no Rio Negro significa que a água avançou vários e vários metros pela várzea. Para subir um centímetro precisa avançar por uma área de terra firme muito grande. O volume de água que vem descendo pelo rio negro é muito elevado neste ano.
De outubro de 2020 a maio de 2021, a cidade de Manaus, por exemplo, registrou 2.490 milímetros de chuva, 509 milímetros acima do normal. Para os próximos 30 dias há previsão de mais de 100 milímetros. “A água está sendo barrada pelo próprio Rio Amazonas e Solimões, e como o rio Negro é mais estreito na sua foz isso faz com que exista uma barreira”, diz Celso Oliveira, meteorologista da Somar.
Nada de chuva: tempo firme predomina no país nesta quinta-feira
As cheias do Amazonas ainda são decorrentes dos efeitos do La Niña que faz com que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) fique mais intensa.
Seca no Centro-Sul
Embora haja a cheia do Rio Negro e Rio Solimões, a situação não ajuda diminuir o problema da crise hídrica e o risco de abastecimento de energia que o país enfrenta neste ano. “As principais usinas hidrelétricas de Tucuruí, Belo Monte, Santo Antônio e Girau ficam em bacias dos rios Tocantins, Xingú, Madeira e Teles Pires que são afluentes sul da Bacia do Amazonas, os quais estão já no início do período seco, que se estende pelo menos até outubro”, afirma o climatologista Paulo Etchichury, da Somar. Lembrando que a energia gerada no Norte atende e parte é transmitida diretamente para o Sudeste do Brasil.
De dezembro de 2020 a maio de 2021, cidades do Sudeste receberam 400 milímetros de chuva a menos do que o normal. Agora que estamos entrando no período seco marcado pelo outono e inverno, não dá para esperar reposição. “O verão que deveria chover e encher a nossa ‘caixa d’água’ teve chuva abaixo do normal em grande parte do Brasil. Dessa maneira não dá para esperar reposição hídrica agora no período seco”, diz Desirée Brandt, da Somar.
Segundo ela, com o cenário de maior neutralidade climática que deve ser verificado no início da estação chuvosa, a primavera, a chance de termos um atraso menor no regime de chuvas é significativa quando comparamos com o mesmo período do ano passado.
A instalação da safra 2020/21 foi atrasada justamente por conta das chuvas que só chegaram para muitas áreas produtoras nos últimos dias de outubro.