Cenário do mercado lácteo

Publicado no dia 28/04/2021 às 10h40min
o momento pede cautela, mas mercado pode reverter!

Ontem (27/04), foi realizado o primeiro dia do Fórum MilkPoint Mercado, uma tarde marcada por discussões e perspectivas sobre o mercado brasileiro de lácteos em 2021, bem como fatores que envolvem toda a cadeia, como os comportamentos e as tendências de consumo neste início de ano, os custos de produção (e os mercados das commodities milho e soja), o cenário econômico do país e do mundo para este ano e as perspectivas do mercado internacional de lácteos.

Mais de 370 participantes envolvendo indústrias, empresas de insumos para o produtor e para a indústria, produtores de leite, técnicos e pesquisadores estão participando daquela que é a maior edição dos 10 anos do evento (neste ano online).

A primeira palestra foi ministrada por Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim. Durante sua apresentação, Roberto destacou que os derivados lácteos são sensíveis à variação de renda dos consumidores. No atual contexto de pandemia, para ele, à medida que a vacinação da população avançar, teremos uma lenta redução do desemprego, ainda que haja expectativa para recuperação econômica.

Embora a economia brasileira não esteja caminhando para uma nova recessão, o crescimento dos lácteos é defasado em relação ao PIB, ou seja, o momento é de cautela. Apesar disso, Padovani se mostra relativamente otimista, em especial pelo cenário externo, que pode continuar ajudando a economia brasileira pelas exportações mais altas.

Dando continuidade às discussões do evento, Mikael Quialheiro, New Business Manager da Nielsen. Em sua palestra, ele pontuou que a segunda onda inesperada da Covid-19 interferiu nos planos anteriores de retomada da economia. Por exemplo, em termos de comportamento de consumo, os consumidores perderam a confiança e tiveram o poder de compra afetado devido à alta da inflação.

Como pontos interessantes (e de certa forma, surpreendentes), mostrou, para os dois primeiros meses deste ano, um crescimento de volume de vendas em algumas categorias lácteas, como leite asséptico (o UHT) e iogurtes; por outro lado, cai, neste início de ano, o volume de vendas de leites em pó de acordo com os dados da Nielsen.

Por outro lado, Mikael destacou que o chamado “Varejo moderno” tem apresentado números positivos na crise, sendo o atacarejo o principal canal de crescimento. Além disso, destacou o crescimento do volume de iogurtes, podendo estar atrelado à tendência da procura por saudabilidade. Segundo ele, a pandemia reforçou a busca por produtos saudáveis, sendo uma tendência relevante.

A terceira palestra do dia contou com insights de como se diferenciar no mercado de maneira rentável. Expondo sobre esse tema, Luis Eduardo Ramirez, gerente executivo de marketing de lácteos da Tetra Pak Brasil, pontuou que a decisão de compra do consumidor está baseada, principalmente, no tipo de leite. Os grandes drivers vieram para ficar: produtos que reforçam o sistema imunológico e aumentam o bem-estar, bem como origem e autenticidade. Para ele, a regra do jogo é clara: diferenciar para inovar, atendendo às dores do mercado consumidor e agregando valor ao produto.

Também foram discutidas as perspectivas para o milho e a soja em uma palestra ministrada por Paulo Molinari, consultor sênior da Safras & Mercado. Segundo ele, as importações destas commodities podem ser necessárias. Em sua apresentação, Paulo ressaltou que Peste Suína Africana, câmbio, safra norte-americana, exportações brasileiras, clima na América do Sul são fatores fundamentais que interferem no mercado de grãos. A tendência é que os preços dos grãos continuem em patamares elevados.

Posteriormente, o evento contou a participação de Andres Padilla, analista sênior do Rabobank Brasil, falando sobre o cenário internacional. Assim como Paulo Molinari, ele reforçou o cenário macro favorável para elevação de commodities, com soja e milho em patamares elevados.

Um ponto importante destacado por Padilla foi a elevação dos custos com os fretes, que também contribuem para o aumento nos preços dos grãos. Padilla mostrou que, apesar dos custos mais altos das commodities usadas na alimentação e dos fretes, os preços aos produtores de leite no mercado internacional não reagiram ainda.

Isso, aliado à expectativa de crescimento de 7% este ano para a economia americana e cerca de 8% para a China, cria um ambiente favorável à manutenção dos preços do leite. Padilla alerta, no entanto, que a diferença de preços internos da China para o mercado internacional vem caindo, o que pode sinalizar uma redução das importações de leite por esse país, esfriando um pouco o mercado. “Pode haver alguma retração no quarto trimestre”, pondera.  

Após a palestra de Padilla, conhecemos um pouco mais sobre a evolução dos sistemas de refrigeração de lácteos em uma palestra ministrada por Luciano Schiavinatto, supervisor de engenharia de vendas da Mecalor. Em sua apresentação, ele traçou um paralelo entre os sistemas tradicionais e os sistemas atuais de refrigeração que, em sua opinião, são mais compactos e econômicos.

Por fim, para encerrar o primeiro dia de evento, Valter Galan, sócio da AgriPoint Consultoria e responsável pelo serviço MilkPoint Mercado, expôs os possíveis cenários do mercado lácteo nacional em 2021. Além de questões relacionadas ao mercado de grãos, Valter ressaltou que a demanda interna pela cesta de lácteos começou o ano em desaceleração.

Este aspecto, aliado a importações ainda resilientes, um aumento da oferta de leite e custos elevados, criou um cenário desafiador para produtores e indústrias. Há, porém, a percepção de que possamos estar no fundo do poço, com um cenário mais promissor à frente, fruto da seguinte conjunção de fatores: importações pouco competitivas e exportações começando a aparecer; desestímulo à oferta, aliado à época de retração sazonal de produção; possível retomada da economia à medida que a vacinação avança (e pandemia regride); cenário externo favorável.

“Nessa situação, podemos ter uma curva invertida neste ano, com subida de preços a partir de meados do ano”, explica Valter. Esse, inclusive, era o cenário mais provável trabalhado em dezembro de 2020 pela equipe do MilkPoint Mercado.

Nesta quarta-feira a partir das 14 horas, será o segundo dia do Fórum MilkPoint Mercado 2021, com palestras de grandes empresas e produtores do setor, nas quais as discussões girarão em torno de estratégias competitivas para melhorar a rentabilidade e as margens de lucro no campo e na fábrica.

No primeiro momento, serão discutidos os resultados financeiros e rentabilidade em fazendas leiteiras (com apresentações da CNA, com dados do Projeto Campo Futuro, e do IDEAGRI/Rehagro), terminando o bloco com uma mesa redonda sobre sistemas de produção de leite e rentabilidade com 4 produtores Top 100 do MilkPoint: Roberto Jank (Agrindus), Maurício Coelho (Grupo Cabo verde), Marcelo Branquinho (Fazenda Cobiça) e Rodger Douglas (Grupo Sete Copas).

Em seguida, teremos apresentações de grandes empresas do setor (o CEO da Vigor, Luís Gennari, e o Diretor de Vendas do Tirolez, Roberto Hegg, apresentarão os caminhos estratégicos de suas empresas para o aumento da rentabilidade dos seus negócios) e uma discussão sobre uso de ingredientes para redução de custos, inovação e aumento da rentabilidade na indústria, com Marcelo Leitão, da Arla Foods.

Ainda dá tempo de participar! Entre no site e faça sua inscrição. E não se preocupe: as palestras dos dois dias de evento ficarão disponíveis por 30 dias. Se prepare para esse incerto futuro do mercado lácteo brasileiro se nutrindo de informações de qualidade!

 

Fonte: MilkPoint