Leite: após acumular queda de 10% em três meses, preço ao produtor deve subir em abril
De janeiro a março, os preços do leite no campo registraram queda acumulada real de 10,7%, deflacionados pelo IPCA de março de 2021
De janeiro a março, os preços do leite no campo registraram queda acumulada real de 10,7%, deflacionados pelo IPCA de março de 2021. Ainda que nesse período a produção seja favorecida pelas chuvas do verão no Sudeste, o movimento de desvalorização neste ano não esteve atrelado a uma situação de sobreoferta, mas, sim, ao enfraquecimento da procura por lácteos. Os dados fazem parte do levantamento mensal realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Segundo a analista de mercado Natália Grigol, essa diminuição na demanda se deve à queda no poder de compra do brasileiro, à elevação do desemprego, ao fim do recebimento do auxílio emergencial para muitas famílias e ao agravamento dos casos da Covid-19.
No entanto, pesquisas ainda em andamento do Cepea, mostram que o cenário de oferta limitada deve impulsionar o preço do leite captado em março e pago em abril. Dois fatores têm influenciado a diminuição da produção: o avanço da entressafra e a elevação dos custos de produção.
“Tipicamente, a partir de março, verifica-se redução no volume de chuvas e, consequentemente menor disponibilidade de pastagens – o que prejudica a alimentação do rebanho e a produção de leite no Sudeste e Centro-Oeste. Assim, o avanço da entressafra da produção leiteira é, sazonalmente, um fator de desequilíbrio entre oferta e demanda e, portanto, de elevação de preços entre março e agosto”, explica o relatório.
Contudo, neste ano, essa situação deve ser agravada por conta da valorização considerável e contínua dos grãos, principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira. Pesquisas do Cepea mostram perda substancial na margem do produtor.
Com o custo alto, o manejo alimentar dos animais tem sido prejudicado e o abate de vacas estava crescente, aproveitando os preços atrativos do mercado de corte. Consequentemente, a oferta de leite no campo deve seguir limitada nos próximos meses.
Outros fatores
É preciso destacar que, com a desvalorização do Real frente a outras moedas, as exportações de lácteos são estimuladas. Por outro lado, as importações devem seguir em queda em relação a meses anteriores – ainda que estejam atingindo volumes maiores do que os registrados no mesmo período do ano passado.
Nesse cenário de limitação de oferta, a competição das indústrias pela compra de matéria-prima deve se acirrar, levando, consequentemente, à retomada dos preços ao produtor. Contudo, esse movimento de valorização do leite no campo deverá acontecer de forma comedida, sendo possivelmente freado pela demanda fragilizada.
A pesquisa do Cepea realizada com apoio financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostrou que, em março, as indústrias de laticínios tiveram dificuldades em manter preços atrativos aos seus fornecedores e, ao mesmo tempo, em repassar a elevação do custo da matéria-prima aos derivados.
Apesar de haver, portanto, uma tendência de retomada dos preços dos derivados negociados entre indústrias e canais de distribuição, esta ocorre de forma
controlada, ainda pressionando as margens da indústria.