Afinal, a quebra de safra de soja da Argentina traz mais negócios ao Brasil?
O Projeto Soja Soja Brasil conversou com três especialistas que comentaram suas perspectivas em relação a exportação de farelo de soja da Argentina
A Argentina terá mais uma safra de soja ruim em 2020/2021, apontam entidades do país. Por conta de problemas climáticos, a tendência é que o país tenha uma colheita entre 5 e 6 milhões de toneladas menor que as 50 milhões de toneladas esperadas inicialmente. De olho nisso, muitos produtores querem saber se a quebra de safra do maior exportador de farelo de soja do mundo, poderá trazer oportunidades para o Brasil. Para responder isso, o Projeto Soja Brasil ouviu três especialistas, confira!
Entidades confirmam safra menor
Duas entidades que fazem o acompanhamento da safra de soja da Argentina já confirmaram que o país terá problemas.
Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, o saldo negativo das chuvas no mês de fevereiro, aliado às altas temperaturas durante o enchimento de grãos causaram perdas irreversíveis nas produtividades esperadas nas principais áreas produtivas. Com isso, a entidade cortou a projeção de produção atual, chegando agora em 44 milhões de toneladas.
Já a Bolsa de Cereais de Rosário, foi um pouco mais conservadora e aposta em uma produção atual de 45 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 11,24% ante o ano passado.
O próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reavaliou a safra argentina e aposta agora em uma colheita de no máximo 47,5 milhões de toneladas.
Vale ressaltar que a safra da Argentina é dividida em dois, já que algumas áreas fazem safrinha. Somando as duas o resultado atual será o pior desde a safra 2017/2018, quando o país colheu apenas 37,7 milhões de toneladas. O recorde daquele país foi obtido em 2014-2015, quando os argentinos colheram 61,3 milhões de toneladas.
Exportação de farelo Argentina
Como dito antes, a Argentina é o maior exportador de farelo de soja do mundo. O menor volume já vendido nos últimos anos aconteceu no ano passado, quando venderam 23,1 milhões de toneladas. O Brasil, maior produtor e exportador de soja em grãos do mundo, vendeu, no mesmo ano, apenas 16,9 milhões de toneladas (e foi nosso recorde).
Vale relembrar que o ano de quebra de safra na Argentina, em 2017/2018, deu ao Brasil a chance de atingir um novo patamar de venda de farelo. Antes de 2018 a média de vendas do Brasil era de 14 milhões de toneladas e, em 2018, conseguiu chegar a 16 milhões de toneladas. A Argentina, por sua vez, vendia mais de 28 milhões de toneladas de farelo por ano na média, e em 2018, vendeu 24 milhões.
Oportunidade para o Brasil? Argentina
O projeto Soja Brasil ouviu dois analistas de mercado e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), para entender se há chance de o Brasil se beneficiar disso e, quem sabe, mudar de patamar em vendas de farelo.
Segundo a Abiove, será preciso observar a movimentação da indústria na Argentina, que até o momento está produzindo bastante farelo.
“Por enquanto, eles estão suprindo o mercado com a produção de farelo. Mas a demanda pode trazer a resposta para isso. Por enquanto, estamos vendo o sudeste asiático recompondo seus plantéis e comprando mais farelo. Agora teremos que ver se a demanda não vai aumentar demais e ai, pode ser que o Brasil consiga aproveitar um pouco”, afirma o economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan.
”Vale destacar que o aumento da mistura de biodiesel, está fazendo com que o Brasil aumente o esmagamento interno da soja e, consequentemente, mais farelo. E, por isso, estamos vendo esse aumento anual nas vendas de farelo”, diz ele.
Segundo a Abiove, o Brasil deve exportar este ano de 2021 17,1 milhões de toneladas de farelo de soja, contra os 16,9 milhões do ano passado.
Segundo o analista da Safras & Mercado, Luis Fernando Gutierrez, a quebra da Argentina não será tão grande quanto naquela época e isso pode trazer uma oportunidade pontual ao Brasil.
“Naquela época a safra argentina era de 55 milhões de toneladas na média e caiu para 37. Este ano a safra média é de 50 milhões de toneladas e cairá para 44 milhões de toneladas. O Brasil deve sim se beneficiar desta quebra atual, mas não veremos a exportação de farelo aumentar 20%. Acho difícil até vendermos 1 milhão de toneladas de farelo a mais para o exterior por conta disso. Chance tem, mas é difícil. Vamos ver como o mercado se comporta daqui pra frente”, diz Gutierrez.
Para o analista de mercado Carlos Cogo, a história de 2017/2018 pode se repetir.
“A Argentina tem 40% das exportações globais de farelo de soja e isso pode trazer a mesma oportunidade que em 2017/2018, isso para Brasil e Estados Unidos. Talvez não tanto quanto naquela época, até pelo tamanho do problema lá, mas sim, trará oportunidade para o Brasil”, diz Cogo.