Um bem estar: o elo que tem transformado o olhar do mundo
O bem-estar animal vem ganhando força não apenas entre os produtores rurais, mas também o mercado consumidor tem se mostrado preocupado com a forma que os animais são produzidos. A população, sobretudo mais jovem, quer consumir produtos oriundos de animais bem tratados, bem alimentados e livres de manejos que causam dor e sofrimento.
Em dezembro de 2020, um estudo foi publicado mostrando que 82% dos brasileiros comprariam produtos com certificação de bem-estar animal, assegurando que ao longo do período de criação os animais não fossem submetidos a situações de crueldade e maus tratos. A pesquisa mostra ainda que 91% dos consumidores acreditam que animais produzidos com o emprego de boas práticas de bem-estar animal dão origem a produtos de melhor qualidade.
Entretanto, além do bem-estar animal, cada vez mais a pecuária deve se atentar à importância de mais dois fatores fundamentais para a produção sustentável: o humano e o ambiente. As conexões entre o bem-estar animal e humano e o equilíbrio ambiental é conhecido como "um bem-estar", capaz de assegurar uma vida digna aos animais, sem colocar em risco os recursos naturais e a saúde humana.
Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), 60% das doenças infecciosas humanas são zoonoses, como a gripe aviária, a raiva, a tuberculose e a brucelose. Além disso, 75% das doenças infecciosas emergentes humanas (incluindo Ebola, HIV e Influenza) têm origem em animais e 80% dos agentes com potencial bioterrorista são patógenos relacionados aos animais. Esses números deixam evidente a responsabilidade de todos nós que trabalhamos na cadeia de produtos de origem animal.
A segurança e a qualidade de todos os alimentos de origem animal dependem das condições de vida a que os animais são submetidos, ou seja, do seu bem-estar, ambiente e saúde. Por exemplo, imagine um lote de bovinos que é conduzido com os animais correndo até o curral, onde são manejados de maneira inadequada. O estresse que acomete esses animais reduz o consumo, os índices produtivos e reprodutivos e a imunidade dos animais, o que aumenta o risco de ficarem doentes, o que pode representar riscos para os consumidores. Além disso, animais estressados estão mais propensos a provocarem acidentes e a deixarem a equipe de trabalho mais agitada e estressada, por sua vez, uma equipe estressada tende a manejar os animais de maneira mais agressiva.
O círculo vicioso está claramente desenhado, e o efeito cascata, muitas vezes, faz com que os manejos inadequados se perpetuem nas unidades de produção animal, pondo em risco o bem-estar de todos: animal, humano e ambiente. Mas, felizmente o contrário é verdadeiro e com pequenas ações, respeitando a realidade, tipo de produção e características de cada produtor, e com o emprego do conceito de "um bem-estar" é possível colher bons resultados econômicos, humanísticos, zootécnicos e sustentáveis.
Assim, é possível reconhecer que se preocupar com a saúde dos animais e do ambiente é melhorar a saúde humana. A implementação das boas práticas de produção, realização de treinamentos e a adoção de condutas ambientalmente corretas, certamente trarão o "um bem-estar" para mais perto da realidade das fazendas.
No nosso país há uma série de iniciativas nesse sentido que devem ser destacadas. Por exemplo, há grupos de pesquisas avaliando métodos de criação e de manejo dos animais de produção que buscam o bem-estar de humanos e animais, satisfação do consumidor, maior rentabilidade aos produtores e menor chance de colocar os recursos ambientais em risco.
Falar hoje de "um bem-estar" pode parecer romântico e distante da realidade da pecuária, mas devemos estar atentos ao que o mercado deseja, principalmente devido ao potencial que o Brasil possui em produzir alimento. Sendo assim, convidamos você a começar hoje a “plantar” boa cultura, boas práticas, bons manejos, bons exemplos e boa humanidade. Todos, animais, humanos e ambiente, só temos a ganhar com isso.
Ana Carolina Balduino Borges, Natália Moreira Cunha
Empresa Seres Júnior – Universidade Federal do Mato Grosso - Campus Sinop
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E-mail: seresjrbemestar@gmail.com ou seresimv@gmail.com
Lucas R B Ruiz
Programa de Pós graduação em Zootecnia – UNESP/Jaboticabal
Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO)
Fernanda Macitelli
Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Sinop
Empresa Seres Júnior
Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO)