Portal GHF

Agronegócio

Uso da semente do algodão em dietas de vacas leiteiras

O caroço de algodão é um subproduto da indústria da fibra do algodão amplamente utilizado como fonte de energia e proteína na dieta de bovinos leiteiros.

O caroço de algodão é um subproduto da indústria da fibra do algodão amplamente utilizado como fonte de energia e proteína na dieta de bovinos leiteiros. Ele fornece uma mistura única de proteínas, energia e fibras em comparação com outros alimentos. O caroço de algodão pode ser inserido na dieta dos bovinos leiteiros reduzindo custos por ser mais barato em comparação com o farelo de soja.

Na prática, o caroço de algodão é ofertado às vacas leiteiras para fornecer fibra, bem como energia e proteína e também, é usado para substituir uma porção de outras fontes de proteína bruta na dieta (COPPOCK et al., 1987).

A proteína da semente de algodão integral está localizada principalmente no coração da semente, envolta na casca e junta com os lipídeos, o que retarda sua liberação no rúmen.

Rogers et al. (2002) relataram que o caroço de algodão inteiro deve ser limitado a não mais que 0,5% do peso corporal ou 20% da dieta total para bovinos adultos, o que corresponde a cerca de 4% de gordura na ração total. Isto é baseado em um estudo de Moore et al. (1986) que observaram que esta é a quantidade máxima de gordura que pode ser fornecida sem afetar negativamente a função ruminal em dietas à base de forragem. Quando consumido em excesso a quantidade de gordura no rumem pode afetar o desempenho animal, podendo também exceder os níveis de gossipol.

O gossipol é um composto polifenólico amarelo encontrado principalmente nas glândulas pigmentares do algodoeiro e existe nas formas livre e ligada. Na semente inteira intacta, o gossipol é encontrado principalmente como gossipol livre. No entanto, quando a semente de algodão é processada, o gossipol liga-se a proteínas, possivelmente ao grupo épsilon-amino da lisina.

Os efeitos da intoxicação por gossipol são mais proeminentes em ruminantes machos, afetando principalmente a produção e motilidade dos espermatozoides, diminuindo as concentrações de testosterona e danificando o epitélio espermatogênico (RANDEL et al., 1992).

Foi desenvolvido um processo de extrusão que remove de 70 % a 75 % do óleo do caroço de algodão. O calor gerado neste processo poderia reduzir o conteúdo total e livre de gossipol, o que diminuiria a absorção de gossipol (MENA et al., 2001) e melhoraria a utilização de proteínas, pelo aumento da passagem de proteína do caroço de algodão pelo rúmen (PENA et al., 1986).

Uma pesquisa com vacas em lactação foi conduzida para avaliar o valor nutricional para gado leiteiro utilizando semente de algodão herbáceo, semente de algodão Pima quebrado e torta de algodão Pima extrusada, como substitutos do farelo de soja. Foi possível observar que a alimentação com maiores quantidades de óleo de semente de algodão aumentou o teor de gordura do leite e o rendimento. O teor de proteína do leite também foi influenciado pelos tratamentos em estudo (BRODERICK et al., 2013).

Os autores ressaltaram ainda que as concentrações de gossipol total, e ambos os isômeros (+) e (-) do gossipol, foram maiores no plasma sanguíneo em semente de algodão Pima quebrado e menores em torta de algodão Pima extrusada, do que em dietas correspondentes contendo semente de algodão herbáceo, indicando que o processo de extrusão reduziu a absorção de gossipol. Neste ensaio, a produção de leite e componentes do leite em dietas suplementadas com semente de algodão herbáceo, semente de algodão Pima quebrado ou torta de algodão Pima extrusada foi compatível ao das dietas contendo proteína bruta do farelo de soja (BRODERICK et al., 2013).

Portanto, a utilização do algodão na alimentação de vacas leiteiras pode reduzir custos na produção, sem afetar o rendimento, e qualidade do leite, entretanto, é necessário obter um conhecimento sobre os níveis de inclusão na dieta, e, também de qual forma será fornecida. Podendo ser caroço inteiro, quebrado ou o caroço extrusado.

 
Agradecimentos
À CAPES, CNPq, FINEP, FAPEG e IF Goiano pelo apoio a realização da pesquisa.

Autores
Diego Silva Ferreira
Hemíllio Borges de Sousa
Thalisson Gonçalves Diniz
Maynna Lima Mendonça
Marco Antônio Pereira da Silva

 

Referências Bibliográficas

Broderick, GA, Kerkman, TM, Sullivan, HM, Dowd, MK e Funk, PA (2013). Efeito da substituição da proteína do farelo de soja pela proteína do caroço de algodão herbáceo, caroço de algodão Pima ou caroço de algodão Pima extrusado na produção de vacas leiteiras em lactação. Journal of Dairy Science , 96 (4), 2374-2386.

Coppock, CE, Lanham, JK e Horner, JL (1987). Uma revisão do valor nutritivo e utilização de caroço de algodão inteiro, farelo de algodão e subprodutos associados pelo gado leiteiro. Ciência e Tecnologia de Alimentação Animal, 18 (2), 89-129.

Mena, H., Santos, JEP, Huber, JT, Simas, JM, Tarazon, M., & Calhoun, MC (2001). Os efeitos da alimentação com quantidades variadas de gossipol de semente de algodão integral e farelo de semente de algodão em vacas leiteiras em lactação. Journal of Dairy Science , 84 (10), 2231-2239.

Moore, J. A., Swingle, R. S., & Hale, W. H. (1986). Effects of whole cottonseed, cottonseed oil or animal fat on digestibility of wheat straw diets by steers. Journal of Animal Science, 63(4), 1267-1273.

Pena, F., Tagari, H., & Satter, L. D. (1986). The effect of heat treatment of whole cottonseed on site and extent of protein digestion in dairy cows. Journal of Animal Science, 62(5), 1423-1433.

Randel, R. D., Chase Jr, C. C., & Wyse, S. J. (1992). Effects of gossypol and cottonseed products on reproduction of mammals. Journal of animal science, 70(5), 1628-1638.

Rankins, DL (2002). A importância dos subprodutos para a indústria bovina dos EUA. Clínicas Veterinárias: Food Animal Practice , 18 (2), 207-211.

Rogers, GM, Poore, MH e Paschal, JC (2002). Alimentação de produtos de algodão para o gado. Clínicas Veterinárias: Food Animal Practice , 18 (2), 267-294. Disponível em:<https://www.vetfood.theclinics.com/action/showPdf?pii=S07490720%2802%2900020-8>  Acesso em: 30 jan. 2024.

Santos, J. E. P. (2008). Gossypol intake from cottonseed feedstuffs - A performance concern for ruminants? In Proceedings of the Florida Ruminant Nutrition Symposium. Held at Best Western Gateway Grand, Gainesville, FL. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Jose-Santos-49/publication/237544136_Gossypol_Intake_from_Cottonseed_Feedstuffs_-_A_Performance_Concern_for_Ruminants/links/5a238c00a6fdcc8e86670e92/Gossypol-Intake-from-Cottonseed-Feedstuffs-A-Performance-Concern-for-Ruminants.pdf> Acesso em: 30 jan. 2024.

Stewart, L.; Rossi, J. Using cotton byproducts in beef cattle diets. 2022. Disponível em: <https://secure.caes.uga.edu/extension/publications/files/pdf/B%201311_3.PDF> Acesso em: 30 jan. 2024

Página:

https://portalghf.com.br/noticia/agronegcio/2024/02/22/uso-da-semente-do-algodo-em-dietas-de-vacas-leiteiras/17881.html