A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cobra um posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre três questões aplicadas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada no último domingo (dia 5). O setor afirma que o conteúdo era ideologizado e tinha "desinformação" contra o agronegócio brasileiro.

Hoje (dia 7), o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que faz parte da FPA, protocolou um requerimento de convocação do ministro da Educação, Camilo Santana, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado para explicar o acontecido. A bancada espera aprovar o requerimento na reunião de amanhã (dia 8).

No requerimento, o setor cobra explicações e pede anulação de três questões: 70, 71 e 89, as três relativas à prova branca. De acordo com a bancada, as perguntas foram mal formuladas e prejudicam a imagem do agronegócio.

“A demonização da produção rural exposta no teste inclui uma associação absurda entre a produção de soja e o desmatamento da Amazônia, a superexploração dos trabalhadores e chuvas de veneno. É um claro ataque ao segmento, que precisa ser corrigido”, ressaltou Heinze.

Segundo o senador, “além de serem dotadas de um teor ideológico, as questões carecem de fundamentação científica e acadêmica.” “Esse tipo de abordagem pode impactar de maneira significativa na forma como a sociedade percebe o setor agropecuário e sua contribuição para o país”, pontuou.

Inadmissível
A FPA emitiu uma nota sobre o uso da prova contra o setor e cobra anulação das três questões. Para a bancada, houve “negacionismo científico” contra um setor que confere “segurança alimentar ao Brasil e ao mundo”.

“É massificação de mentiras. O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários. É inacreditável o governo federal se utilizar de desinformação em prova aplicada para quase 4 milhões de alunos brasileiros que disputam uma vaga nas universidades do Brasil”, disse a FPA em nota. O presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), classificou a abordagem das questões como “gravíssima”.

Segundo a FPA, “a ineficiência do Estado Brasileiro está exposta.” “Não permitiremos que a desinformação seja propagada de forma criminosa entre nossa sociedade, como foi feito durante os anos anteriores do governo atual”, diz ainda a nota.

Forma equivocada
Segundo a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), as questões do Enem apresentam o setor de forma equivocada, pejorativa e descolada de embasamento técnico-científico.

A entidade afirma que atitudes como essa criam desinformação sobre a atividade rural no Brasil.

"Mais do que anular as questões, o Ministério da Educação precisa esclarecer à sociedade como pretende interromper esse ciclo de desinformação", disse a nota da ABAG.

A entidade revelou que vai mobilizar o setor, universidades, pesquisadores e educadores para propor apoio ao governo na atualização do conceito de agronegócio no banco de questões utilizado na elaboração das provas do Enem e demais materiais didáticos distribuídos pelo governo federal.

Questões
A questão 89 indagava sobre os fatores negativos do agronegócio no Cerrado, O texto traz fatores negativos do setor, como a “violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.

A 71 tratava da corrida espacial financiada por bilionários. A questão aponta que poucas pessoas poderão viajar ao espaço, enquanto o resto da população seria impactada pelos efeitos da viagem. O enunciado tem uma charge que mostra um alienígena sendo avisado por um indígena para não confiar nos humanos bilionários que chegam ao planeta.

A última, a de número 70 tinha como temas o avanço da cultura da soja e o desmatamento da Amazônia. A questão vincula o aumento do desmatamento na região à expansão da atividade agropecuária.

“É evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja, porém atribuir a ela o fator principal parece não totalmente correto", dizia o texto