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Agronegócio

Resolução do CNJ pode incentivar invasões de terra

Efeitos da medida podem dificultar processos de reintegração de posse

Resolução publicada em junho pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) pode dificultar a vida do produtor rural que tiver áreas invadidas. Os efeitos da medida devem resultar em uma reintegração de posse mais demorada e causar insegurança jurídica aos proprietários de terras ocupadas por invasão.

A resolução criou Comissões para tratar de Soluções Fundiárias em nível nacional e regional, no âmbito do CNJ e dos Tribunais, além de estabelecer protocolos para ações que envolvam despejos ou reintegrações de posse.


A presidente do CNJ, ministra Rosa Weber, afirmou, em seminário sobre o tema, que a criação das comissões para solução de conflitos fundiários deve “garantir segurança jurídica, previsibilidade, eficiência e, acima de tudo, a uniformidade mínima necessária para o enfrentamento da questão sem descurar das peculiaridades regionais”.

O texto prevê a realização de audiências de mediação ou de conciliação em qualquer fase do processo, no entanto, aponta também que o esbulho ou a turbação (perda de posse total ou parcial da propriedade) deve ter ocorrido há mais de um ano. Com a realização das audiências e de todo o protocolo previsto na resolução, o CNJ pretende que "as decisões judiciais de reintegração de posse sejam cumpridas de forma justa e preocupada com as questões sociais".

Dentre as medidas constantes da resolução, está prevista a criação de um plano de ação e de um cronograma de desocupação. 

No plano de ação, há a previsão de um cadastramento dos invasores das propriedades, além da identificação do seu perfil socioeconômico. O cadastro, de acordo com a resolução, deverá ser feito pelas prefeituras, objetivando a realocação dos mesmos bem como o encaminhamento para órgãos de assistência social e programas de habitação.

Com a criação das comissões nacional e regionais para buscar soluções para os conflitos fundiários, foram previstas também as visitas técnicas nas áreas de conflito. A resolução prevê que a atuação da Comissão Regional deverá ocorrer no prazo de 90 dias, podendo ser prorrogada por prazo que não é especificado no documento.


Ainda de acordo com o texto, as partes nas ações de reintegração de posse serão avisadas das visitas, incluindo movimento social ou associação de moradores que dê suporte aos invasores.

O efeito prático das medidas propostas na resolução do CNJ ainda não pode ser aferido em razão de se tratar de norma recém-publicada. Além disso, a resolução previu o prazo de 30 dias para adequação e criação das Comissões Regionais de Soluções Fundiárias.

Embora a resolução do CNJ tenha criado comissões para auxiliar nos processos de reintegração de posse, sempre caberá ao juiz natural da causa decidir se encaminhará ou não o processo à Comissão de Soluções Fundiárias.

Ao falar sobre o tema em seminário promovido pelo CNJ, a ministra Rosa Weber ressaltou que as comissões não têm poder decisório no processo judicial, tampouco estão autorizadas a interferir na independência do juiz ou da juíza da causa. “Podem elas colaborar com o magistrado ou a magistrada do processo, no que diz com a instauração de ambiente processual e negocial próprio para uma intervenção estrutural no conflito fundiário em julgamento”, disse a ministra.

CPI do MST

A resolução do CNJ vem preocupando membros da CPI do MST. O presidente do colegiado, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), afirma que “o direito à propriedade não pode ser relativizado". Se o produtor rural detém o título ou a escritura, ou seja, a documentação que lhe confere a posse da terra, ele está protegido legalmente de qualquer tentativa de expropriação do imóvel”.

A CPI do MST quer aumentar as penalidades para invasão de propriedades públicas ou privadas. Para isso, o colegiado deve elaborar um projeto de lei com medidas severas de combate ao crime de invasão, bem como a tipificação de novos crimes para quem ocupar propriedades rurais. O plano deve ser elaborado e apresentado na volta do recesso parlamentar.

A ideia do colegiado é fundir propostas que tramitam no Legislativo, ainda em fase inicial, com dificuldade no avanço para aprovação dentro das comissões permanentes da Câmara dos Deputados. 

Foto: Divulgação/Internet

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