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Agronegócio

Queijos rastreados e premiados integram rota turística no Espírito Santo

A Vila Veneto Queijaria & Bistrô é uma das cinco integrantes da Rota do Queijo de João Neiva, que fica nas margens da BR-259.

O produtor rural e administrador de empresas Roberto Cuzini, da quinta geração de imigrantes italianos que deram origem à cidade montanhosa de João Neiva, no norte do Espírito Santo, foi buscar na Europa uma tecnologia de rastreabilidade para queijos autorais artesanais, estrelas do empreendimento que ele e a mulher, a comerciária Renata, criaram em 2020, com investimento de R$ 350 mil a R$ 400 mil.

A Vila Veneto Queijaria & Bistrô é uma das cinco integrantes da Rota do Queijo de João Neiva, que fica nas margens da BR-259. A rota de 9,4 quilômetros de extensão, que fica entre o distrito de Cavalinho e o trevo de João Neiva e Colatina, visa explorar o turismo gastronômico da região. É cercada por montanhas e reservas naturais.

A rota foi fundada em 2017, mas ganhou projeção mesmo em 2021 com a inclusão no calendário turístico do Estado e mais adesões de queijarias e outros negócios de cachaça, café e mel, além do apoio da Aderes, Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo do Estado.

Queijo Otello com rastreabilidadeO queijo Otello, da Vila Veneto, que tem selo de rastreabilidade feito de caseína — Foto: Divulgação

O selo fabricado na França com caseína, a proteína do leite, já é usado em grandes indústrias do queijo, mas é inédito nas produções artesanais do Espírito Santo. Comestível, o selo adere à massa do queijo e identifica a queijaria e a origem do leite, com produção limitada e numerada de 1 até 1.000. Cada peça de meio quilo é vendida por R$ 100.

O lote de 2023 do queijo rastreado Original Otello ganhou a medalha de bronze na 6ª Edição do Prêmio Queijo Brasil, realizada no no passado. De casca lavada, ele fica 60 dias em maturação. O queijo premium do tipo asiago, de origem italiana, com 180 dias de maturação, que custa R$ 230 o quilo, teve um desempenho ainda melhor: ganhou a medalha de ouro no concurso nacional.

“Meu pai sempre foi produtor de leite na propriedade que meus ascendentes receberam em 1891 ao chegar da Itália. A gente fazia muito queijo tipo frescal, mas decidimos apostar nos queijos autorais com o terroir da fazenda de onde saem 150 litros de leite por dia para a produção do Otello e do tipo asiago. A propriedade que meu pai, Francisco Cuzini, está passando para mim tem um clima agradável de montanha, nascentes de águas cristalinas e muitas matas preservadas”, diz Roberto.

A fazenda de 15 alqueires abriga 30 vacas leiteiras girolando e zebu, que fornecem a matéria-prima para a produção de 25 kg a 30 kg de queijo por dia. Um vizinho da fazenda fornece os outros 100 litros usados na fabricação de mais dois queijos premium, além dos tipos tradicionais minas curado e requeijão. Roberto diz que a premiação e os investimentos na divulgação da rota estão dando bons resultados. A visitação na queijaria aumentou muito e o faturamento já chega a R$ 100 mil por mês.

Outra queijaria premiada da rota também tem suas raízes na imigração italiana. Gabriela Giacomin, que assumiu com o marido, Pedro Henrique Borlini, a Queijos Giacomin, fundada por seu pai, Hildo, num anexo de 50 metros quadrados da casa da família em João Neiva, conta que a família Giacomin veio da Itália em 1888, na embarcação Maria Pia, e a fabricação de queijo foi sendo passada de geração em geração.

A família não tem produção própria de leite, mas mantém sete fornecedores fixos há 20 anos para a fabricação diária de 50 quilos de queijo. Ao assumir o negócio artesanal de Hildo, o casal que trabalhava na indústria de celulose investiu R$ 500 mil na construção de uma loja em estilo colonial de 300 m² na rota do queijo, na criação de logomarca e na formalização do negócio, que inclui adega, cafeteria e jardim com vistas para um dos principais pontos turísticos da cidade, o Monte Negro.

“Meu pai fabricava quatro queijos. Nós produzimos hoje mais de 30 tipos, com destaque para cinco autorais, entre eles o Monte Negro. Nossa visitação triplicou e nosso faturamento também”, conta Gabriela.

O queijo Monte Negro, vendido a R$ 120 o quilo, acaba de ganhar a medalha de ouro no 3º Mundial do Queijo, concurso Internacional realizado em São Paulo em abril. No ano passado, ganhou ouro também no Cheese Awards - Brasil 2023, em Araxá (MG), e bronze no Queijos Brasil. O queijo Capixaba Gourmet levou o bronze no Mundial.

Pedro, que fez curso de mestre queijeiro, diz que o plano deles agora é investir cada vez mais nos queijos autorais para entregar uma experiência diferente aos clientes. A fábrica instalada no anexo da família Giacomin será transferida para instalações modernas a serem construídas no terreno da loja, com paredes envidraçadas e cave de maturação para o turismo de visitação. O novo investimento pode chegar a 400 mil.

Tradição

O visitante da Rota do Queijo de João Neiva tem mais três opções para experimentar os sabores da região: Queijaria do Trevo, Queijos Bergantini e Queijaria Del Caro.

A Trevo, a primeira da rota, tem mais de 40 anos de história e produz 160 quilos de massa por dia, com variedade de mais de 15 queijos, com destaque para o tipo cabacinha. Uma curiosidade gastronômica é o provolone com torresmo ou com salame.

Jocimar Nunes, o proprietário, conta que seus produtos ficaram mais conhecidos e as vendas aumentaram muito depois que ele aderiu à rota do queijo.

A Bergantini tem quase 28 anos de história. Antes de integrar a rota, produzia 12 quilos de queijo por semana e agora passa de 200 quilos. O queijo mais procurado na lojinha construída pelo empreendedor Carlos Bergantini é o tipo montanhês, mas os saborizados e o palmitinho também fazem sucesso.

A Del Caro, último ponto da rota, começou as atividades em 1920, mas como loja de secos e molhados. O casarão foi reformado mantendo suas características antigas e se tornou a loja da fábrica de queijos.

Elda Del Caro, da quarta geração da família, assumiu a queijaria fundada por seu pai, Edmir José Del Caro. Ela conta que o queijo mais procurado por lá é o cabacinha com goiabada, mas no local também se encontra o palmitinho, montanhês, parmesão e queijos banhados no vinho.

Pequenos negócios

Alberto Farias Gavini Filho, diretor-presidente da Aderes, conta que a agência mudou seu modelo de negócios em 2012, passando a apoiar os pequenos negócios capixabas urbanos e rurais, o que inclui a Rota do Queijo de João Neiva, a de maior projeção do Estado. Segundo ele, os negócios foram impulsionados com a criação do 1º Festival Rota do Queijo em 2022, realizado em parceria com o Instituto Panela de Barro e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-ES).

A Aderes fornece formação e consultoria aos empreendedores, programa de microcrédito e oportunidades de comercialização. Segundo Gavini Filho, um dos aspectos mais trabalhados com as queijarias foi a questão da higiene e dos cuidados de manejo dos produtos para evitar contaminações, além de melhorias nas embalagens e na recepção aos turistas.

O dirigente diz que, embora não haja números consolidados, é visível o sucesso da rota pelo aumento da visitação e pela satisfação dos empresários, que contrataram mais pessoas e investiram em melhorias em suas lojas. Segundo ele, outros empreendedores da cidade estão tentando se capacitar para também produzir queijos e se integrar à rota.

As informações são do Globo Rural, adaptadas pela equipe MilkPoint.

Página:

https://portalghf.com.br/noticia/agronegcio/2024/04/22/queijos-rastreados-e-premiados-integram-rota-turstica-no-esprito-santo/18848.html