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Agronegócio

Produtor precisa 50 sacas de soja por hectare com cotação a R$ 100 para evitar prejuízo

Especialista do Cepea projeta pior resultado do século no "sistema soja e milho"

O produtor brasileiro de soja precisa colher, no mínimo, 50 sacas por hectare com uma cotação a R$ 100 por saca para não ter prejuízo na safra 2023/2024.

Essa “nota de corte”, no entanto, está acima de boa parte dos agricultores nesta temporada, especialmente no Centro-Oeste do país.

A síntese foi obtida a partir da apresentação do pesquisador do Cepea, Mauro Osaki, em evento realizado ontem (dia 2) pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).

Segundo o pesquisador, inclusive, o sistema combinado soja mais milho deve apresentar na safra 2023/24 o maior prejuízo dos últimos 25 anos, portanto, o pior resultado do século XXI.

O pesquisador calculou a rentabilidade em cinco das principais praças de produção de soja e milho no país, como Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Dourados (MS), Cascavel (PR) e Carazinho (RS). Foram avaliados os custos médios operacionais efetivos e os preços médios das commodities.

De acordo com o pesquisador, há queda na receita líquida operacional devido à queda de 18,4% nos preços médios e de 18,2% na produtividade nesta temporada. Esses dois fatores superaram o efeito positivo da redução de 36% no custo de fertilizantes e de 24% nos gastos com sementes.

“Assim, os produtores terão prejuízo com qualquer produtividade abaixo de 50 sacas por hectare e com qualquer preço abaixo de R$ 100 por saca”, resumiu.

Comparação Centro-Oeste vs Sul
Especificamente nas cidades analisadas, o pesquisador projetou um prejuízo de R$ 370 por hectare de soja em Sorriso, a capital da soja, nesta temporada na comparação com um ganho de R$ 1.421 por hectare na safra passada.

Na cidade gaúcha de Carazinho, a projeção aponta um lucro bruto de R$ 606 por hectare de soja, ante uma perda de R$ 852 por hectare na safra anterior.

“Não tem um estado que vá colher melhor do que o ano passado, a não ser o Rio Grande do Sul. Fechei a safra com 30 sacas por hectare na média no Mato Grosso. A média no Brasil pode ser boa, mas cada produtor tem um resultado diferente”, observou o presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan.

Osaki prevê situação parecida em relação à safra 2024/25. O especialista calcula que será necessário alcançar uma produtividade média de 55 sacas por hectare para cobrir os custos da próxima safra, levando-se em conta os custos atuais dos insumos, os preços atuais da soja e o câmbio.

Lucro do milho não cobrirá prejuízo da soja
No caso do milho, o representante do Cepea acrescentou que as estimativas para a safra de inverno estão melhores, mas a rentabilidade é insuficiente para cobrir os prejuízos da soja.

“Se pegarmos o nível de preço de R$ 38 por saca e a produtividade média de 120 sacas por hectare, a rentabilidade é de R$ 3 por hectare. Mas temos que lembrar que a soja deu prejuízo e o milho não vai pagar a conta da soja”, afirmou o pesquisador.

Para o diretor executivo da Aprosoja Brasil, Fabricio Rosa, as margens do produtor caíram mais que os custos.

“Muitos estados estão com problema de produtividade e a única maneira de equilibrar as contas é o custo de produção cair. Ou então ter alguma crise global para elevar os preços das commodities, mas não é o que temos hoje de cenário”, afirmou.

Os executivos afirmaram que a prorrogação das dívidas de contratos de investimento de produtores de soja e milho afetados por problemas climáticos pelo governo é insuficiente para solucionar os problemas dos agricultores. 


Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News
Editor-chefe do Agrofy News Brasil

Página:

https://portalghf.com.br/noticia/agronegcio/2024/04/03/produtor-precisa-50-sacas-de-soja-por-hectare-com-cotao-a-r-100-para-evitar-prejuzo/18530.html