Agronegócio
Mulheres no agro: elas não só podem como já fazem de tudo
Profissionais femininas comandam fazendas, pilotam aviões e protagonizam os próximos passos em todos os elos do setor, apesar dos obstáculos
Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News
Editor-chefe do Agrofy News Brasil
Elas representam cerca de 11 milhões de trabalhadoras do agro no ano passado, segundo dados do Cepea
A força da mulher está demonstrada pela realidade na sociedade como um todo e cada vez mais. É importante lembrar disso todos diariamente e esse é o objetivo do Dia Internacional da Mulher.
No agronegócio, por exemplo, elas representam cerca de 11 milhões de trabalhadoras do agro no ano passado, segundo dados do Cepea, em todos os elos da cadeia.
No setor primário “Dentro da Porteira”, por exemplo, elas somam 4,5 milhões e respondem por 33% da força de trabalho.
Além disso, segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, eles comandam cerca de 1 milhão de propriedades no Brasil.
E não são apenas números, mas mulheres, com Lieli e Luci. Em 1 mil hectares, no município de Bagé (RS), Lieli Borges Pereira trabalha com gado de corte e plantio de soja.
Com a morte prematura do pai, Lieli assumiu a gestão da propriedade, saindo da cidade para a fazenda. Situações como essa não são incomuns.
Por sua vez, Lucy Araújo de Armas cria gado de corte e ovinos em uma propriedade de 10 hectares no município de Jaguarão (RS). A pequena produtora atua na criação e comercialização de cordeiros.
Pioneirismo
Já no setor dos agrosserviços, são outras 4,3 milhões ou 43% do total que inclui logística, comunicação, transporte, crédito, consultorias, operações e tantos outras atividades relacionadas ao setor.
É o caso, por exemplo, Mônica Pinto, gerente de projetos da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café). Ela lidera o comitê de Mulheres do Café que visa, justamente, tornar o setor mais equitativo e inclusivo.
“Nosso objetivo é fortalecer o empreendedorismo feminino na cadeia do café, oferecendo oportunidades de capacitação para os negócios, além de ampliar a conexão e a visibilidade de mulheres empreendedoras", comenta Mônica.
Outro exemplo é Joelize Friedrichs, fez história ao se tornar a primeira mulher no Brasil a conquistar a qualificação para operar o prestigioso Air Tractor AT-802, considerado o maior avião agrícola do mundo.
Desde 2023, ela agora integra um seleto grupo de pilotos certificados a voar com o modelo para pulverização agrícola em larga escala.
Proatividade
No mesmo modo, na etapa da agroindústria, as mulheres somam 1,9 milhão e compõem 41% das pessoas ocupadas.
Cirley Lorenzeti, por exemplo, é responsável pela agroindústria Sabores da Montanha desde 2005, a moradora de Pinto Bandeira mudou sua realidade quando resolveu apostar no empreendedorismo.
De geleias a frutas desidratadas, a empreendedora aproveita para comercializar os seus produtos em diversas feiras e eventos da agroindústria.
“Eu perco alguns momentos com a família, mas vale a pena. É importante que a mulher tenha isso em mente se quiser começar uma agroindústria. Tem muitos sacrifícios, mas ver o resultado é muito gratificante”, reconhece.
Já no setor de insumos, já são 82 mil, 27% do total.
Larissa Neves, por exemplo, é coordenadora de qualidade de uma empresa de sementes e vê como o maior desafio feminino a “obrigação” de conciliar trabalho e família.
“Essa capacidade de desempenhar múltiplas funções, por vezes, faz com que muitas figuras femininas se destaquem no mercado pelo alto grau de adaptabilidade e proatividade, porém, ao mesmo tempo, reflete o excesso de trabalho que enfrentam diariamente”, aponta.
Machismo no trabalho
Apesar disso, há importantes obstáculos e disparidades sobre a participação feminina na sociedade e no mercado de trabalho, inclusive no agro.
Entre os exemplos, a presença ainda menor em cargos de liderança, salários menores para a mesma função em muitos casos e até mesmo preconceito.
Na pesquisa #MulheresQueInovamOAgro, 9 em cada 10 delas relataram já terem passado por situações de machismo ou constrangimento no ambiente de trabalho.
A exemplo das situações abaixo:
Interrupção masculina em uma conversa (Manterrupting): 53,7%
Pouca representação em eventos e reuniões: 50,4%
Explicação de algo óbvio por pessoas do sexo masculino (Mansplaining): 47,5%
Falta de serem chamadas para contribuir em assuntos que dominam: 45,3%
Apropriação de ideias (Bropriating): 37,7%
Dominação da conversa/sequestro de assunto por homens (Manologue): 37,7%
Repetição da explicação dada anteriormente (Hepeating): 36,7%
Elevação do tom da voz de um terceiro para provar seu ponto:30,9%
Anulação em uma discussão: 26,5%
Violência psicológica com distorção da realidade (Gaslighting): 23,2%
Julgamento pela maneira como estava se vestindo: 18,3%
Xingamentos ou comunicação desrespeitosa: 11,3%
Outros: 2,6%
Apenas 12,6% responderam não ter sido impactadas por nenhuma dessas situações.
Quando perguntadas se encontram acolhimento trabalhando no agronegócio, 76,7% disseram que sim, versus não (13,3%) e não sei dizer (10%).
“Se 9 em cada 10 mulheres enfrentam situações de machismo, 8 em cada 10 afirma se sentir acolhida trabalhando no agronegócio. A união feminina é uma grande força para avançarmos rumo à equidade de gênero e acredito que ajude a explicar essa ambiguidade”, diz Dalana de Matos, Estrategista de Inovação do AgTech PwC.
Página:
https://portalghf.com.br/noticia/agronegcio/2024/03/08/mulheres-no-agro-elas-no-s-podem-como-j-fazem-de-tudo/18132.html