Agronegócio
Longevidade do rebanho leiteiro: é positivo manter animais mais velhos em produção?
Steve Eicker, médico veterinário e cofundador da Valley Agricultural Software (VAS), tem uma perspectiva sobre a manutenção de vacas leiteiras no rebanho que ele gosta de compartilhar
Steve Eicker, médico veterinário e cofundador da Valley Agricultural Software (VAS), tem uma perspectiva sobre a manutenção de vacas leiteiras no rebanho que ele gosta de compartilhar durante apresentações para produtores, veterinários e nutricionistas. Essa visão provavelmente vai contra o que eles podem ouvir de outros especialistas do setor hoje em dia. Ainda assim, Eicker expõe sua opinião.
“Eu acho que os produtores de leite estão mantendo suas vacas mais velhas por muito tempo. Adivinha quanto leite as vacas mais velhas estão produzindo, aquelas que já deveriam ter sido colocadas no caminhão há alguns meses? Elas estão diminuindo a média do rebanho.”
Essa perspectiva contraria um recente desenvolvimento que está impactando a retenção de novilhas e potencialmente desacelerando a renovação do rebanho nos Estados Unidos. O público em geral e alguns especialistas do setor leiteiro acreditam que manter vacas mais velhas no rebanho — a longevidade das vacas — é algo positivo. Segundo Eicker, isso raramente é o caso.
Em sua opinião, os produtores de leite que desejam melhorar a sustentabilidade de suas fazendas a longo prazo precisam focar mais em aumentar a produção de leite trazendo novilhas de reposição para o rebanho mais cedo e não mais tarde.
“O que acontece quando uma nova novilha entra no rebanho? Você tem o luxo de encontrar a vaca menos rentável, a vaca menos saudável e substituí-la”, disse Eicker a um grupo de nutricionistas de vacas leiteiras durante uma reunião recente.
Sua perspectiva é que animais mais velhos precisam ser substituídos por novilhas com melhor genética e, portanto, maior produção de leite, além de um potencial de receita de descarte melhorado.
Força vital da fazenda
Os produtores de leite estão substituindo as vacas mais cedo hoje do que no passado. Em 2005, os produtores substituíam cerca de 30% de seu rebanho de vacas leiteiras por ano. Hoje, Eicker diz que a taxa de descarte (um termo que ele não gosta) é de cerca de 40% anualmente, o que significa que a longevidade média das vacas leiteiras nos EUA é de cerca de dois anos e meio.
Mas Eicker está preocupado que os produtores de leite dos EUA não continuem substituindo seus rebanhos a essa taxa. Um dos motivos é que os custos iniciais para criar novilhas de reposição dispararam. Esses custos representam cerca de 20% dos custos operacionais totais de uma fazenda leiteira e são a terceira maior despesa depois da alimentação e mão de obra.
A base de dados FINBIN da Universidade de Minnesota mostra que o custo médio para criar uma novilha em 2022 foi superior a US$ 2.100. Mas, de acordo com Eicker, o custo de criação pode ser enganoso e não é o mesmo que o custo de reposição. “O custo de reposição é a diferença entre o custo de criação e a receita de descarte”, ele explica.
Eicker acredita que os produtores estão em uma posição financeira melhor quando mantêm novilhas suficientes para substituir as vacas que saem da fazenda — se o objetivo a longo prazo é permanecer no negócio.
“Vi alguém pagar mais de US$ 3.000 por uma novilha prenha na semana passada (no final de maio)”, disse ele ao grupo de nutricionistas. “E por que fizeram isso? Porque valeu a pena para eles. Porque, adivinhem o que eles não tinham? Novilhas suficientes.”
Comercializar as vacas mais cedo
Eicker afirma que, embora a prevenção e o tratamento de doenças, a nutrição de alta qualidade e boas práticas de bem-estar animal sejam “ótimas para vacas individuais”, essas práticas não favorecem a longevidade do rebanho. “A longevidade das vacas não é boa para a lucratividade. Não é boa para o meio ambiente e é terrível para o bem-estar animal”, disse ele.
Para esclarecer, Eicker se preocupa com o bem-estar e a saúde das vacas. Seu ponto é que vacas mais velhas tendem a ter mais mastite e outros problemas de saúde, como claudicação, todos os quais são prejudiciais para a percepção pública e o bem-estar animal. Essas doenças exigem mais recursos financeiros, mão de obra e tempo da fazenda para tratamento. Além disso, vacas mais velhas nem sempre produzem mais leite, aponta Eicker.
“Substituir animais de primeira lactação que não são muito bons pode gerar muito dinheiro para a fazenda”, disse ele. “As pessoas que pensam que vacas mais velhas produzem mais leite estão cometendo um erro de análise estatística ao ignorar os animais que conseguiram ‘novos empregos’. Isso se chama viés de seleção.”
Eicker também discorda daqueles que defendem a permanência de uma vaca no rebanho até que ela cubra seus custos de criação. Isso pode levar anos, especialmente se sua produção de leite for baixa.
“Eu quero substituir vacas com base na produção de leite e na rentabilidade”, ele afirma. “Queremos vacas saudáveis e produtivas na fazenda e, como se vê, há muito dinheiro a ser ganho comercializando vacas menos produtivas mais cedo.”
“Precisamos parar de manter vacas até que surja um problema”, acrescenta. “Nunca quero ver um jarrete quebrado. Não quero ver uma vaca caída.”
Avaliar os dados
Vacas leiteiras mais jovens e em boas condições têm o potencial de alcançar valores elevados no mercado, pois geralmente recebem boas classificações e têm bons valores de carcaça. Eicker quer que os produtores coletem e avaliem seus dados de venda para determinar isso por si mesmos. Ele incentiva os nutricionistas e veterinários a ajudarem nesse processo.
“Cada vez que você vende uma vaca, obtenha a classificação, o peso e o valor total”, recomenda Eicker. “Se você perceber, ao longo do tempo, ‘Ah, quando vendo um animal de segunda lactação com 150 dias de lactação, recebo US$ 2.400. E quando vendo um animal ruim, recebo US$ 1.200’. Adivinha o que você vai querer então? Mais novilhas de reposição, porque você não deve vender uma vaca sem ter uma novilha para substituí-la.”
Valor da genômica
Eicker diz que os produtores que criam suas próprias novilhas de reposição têm mais opções para criar um futuro melhor — mais sustentável — para suas operações leiteiras. “Vacas que produzem mais leite e carne e utilizam menos recursos no processo são o caminho para a sustentabilidade,” ele conclui. “Isso é bom para o planeta e bom para o produtor.”
As informações são do Dairy Herd Management, traduzidas pela equipe MilkPoint.
Página:
https://portalghf.com.br/noticia/agronegcio/2024/10/16/longevidade-do-rebanho-leiteiro-positivo-manter-animais-mais-velhos-em-produo/22075.html