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Agronegócio

Eliseu Alves e o legado da pesquisa agropecuária no Brasil

No mês em que a Embrapa completa 49 anos, economista fala do profissional que está há décadas vinculado à instituição e é uma referência mundial em pesquisa agropecuária

Fundada em 1973, a Embrapa comemora aniversário de 49 anos no mês de abril de 2022. Devemos, antes de tudo, reconhecer que, por detrás de grandes instituições, existem líderes. Eliseu Alves, o mentor da moderna agricultura do Brasil, é uma dessas pessoas que, aos 91 anos de idade, ainda mantém vivo o seu espírito de ajudar o país. A curiosidade, o pragmatismo, o pendor para a matemática e o questionamento científico, aliados à sua fé, foram características pessoais que o permitiram edificar o sistema de pesquisa agropecuária no nosso Brasil.

O investimento em ciência e tecnologia promoveu o aumento da produtividade, a diversificação produtiva e a expansão das exportações, requisitos para enfrentar os déficits recorrentes das contas externas do passado. Era preciso diminuir a dependência do café e estimular o crescimento econômico. O desenvolvimento da agricultura havia sido sugerido por Eugênio Gudin, ministro da Fazenda no governo Café Filho, ao se referir à política protecionista de JK, que privilegiava a indústria local. Segundo ele, “produzir carros seria fácil”, bastaria desmontar mil carros e remontá-los, para que qualquer país pudesse reproduzi-los eficientemente. “O desafio seria domar a agricultura tropical”, o que ninguém tinha feito até aquele momento.

Relevante destacar, também, que a origem do debate de reestruturar a pesquisa agropecuária remonta ao final da década de 1960, no governo Médici. Havia um grupo de economistas ligado a Delfim Netto, ministro da Fazenda, que comandava a política econômica, e outro de técnicos associados a Cirne Lima, ministro da Agricultura. Era preciso aproximar esses dois grupos. Cirne Lima aceitou a ideia de se criar, no Rio de Janeiro, um grupo comum para responder à seguinte questão: por que a agricultura brasileira, a despeito de ter um bom serviço de extensão e um avançado programa de crédito, não evoluía?

Foi então em 1971 que o sociólogo José Pastore coordenou o corpo técnico da iniciativa que mais tarde se transformaria na Embrapa. Integraram ao grupo os pesquisadores Eliseu Alves e Aloísio Campello, com respaldo dos economistas Affonso Celso Pastore, Carlos Langoni e Guilherme Dias. À época, Paulo Rabello era um brilhante estagiário. Cabia, então, a José Pastore fazer a ligação entre as duas equipes e nivelar as proposições. Em uma pesquisa de campo, Guilherme Dias mostrou que o estoque de conhecimento existente não era suficiente para municiar a extensão rural por mais de três anos na disseminação das tecnologias.

 



Eliseu Alves. Foto: Embrapa

Delfim Netto usou este argumento e outras evidências para apoiar a pesquisa pública. Seria preciso investir em pesquisa e gerar novos conhecimentos! Rejeitou-se, deste modo, a tese de que: “Havia tecnologia suficiente e o problema produtivo estava na ausência de difusão”.

Do ponto de vista prático, o então Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária (DNPEA) estava mal financiado, sem foco e com deficiências institucionais. Resolveu-se, portanto, criar a Embrapa.

José Pastore seria o nome indicado na condução da nova instituição; porém, ele sempre recusava cargos administrativos. Assim, Cirne Lima nomeou, em 26 de abril de 1973, José Irineu Cabral, como primeiro diretor-presidente; Eliseu Alves, como diretor de recursos humanos e difusão de tecnologias; Roberto Meirelles, como diretor de pesquisa; e Edmundo Gastal, como diretor de planejamento. Em 1974, já no governo Geisel, Alysson Paolinelli foi nomeado ministro da Agricultura, que não fez objeção ao projeto que estava em curso.

De todos os que participaram dessa aventura de criação da Embrapa, Eliseu Alves, nomeado posteriormente presidente da instituição de 1979 até 1985, foi decisivo na construção institucional. Inicialmente, foi responsável pelo audacioso projeto de capacitação dos pesquisadores e, posteriormente, apoiou as pesquisas que incorporaram o Cerrado à fronteira agrícola nacional. De 1985 a 1990, foi presidente da Codevasf, desempenhando ação estratégica na política de irrigação do Semiárido nordestino.

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Desde 1990, foi atuante no debate político, assessorando todos os presidentes da Embrapa. Em suas observações mais recentes, identificou que os desafios para solucionar a concentração produtiva requerem a inclusão dos pequenos produtores na dinâmica produtiva. O sucesso da agropecuária do Brasil se deve muito ao esforço e à dedicação de Eliseu Aves! Obrigado!

*José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho é economista e matemático, pesquisador do Ipea e professor do IBMEC e da pós-graduação em Economia Aplicada da UFV

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