Com tarifaço menor, Brasil pode tirar vantagem no comércio internacional

China promete retaliação; Brasil avalia recorrer à OMC contra medidas de Trump

Com tarifaço menor, Brasil pode tirar vantagem no comércio internacional
Ilustrativa

Por Redação com informações da Agência Brasil | Agrofy News

No novo “tarifaço global” anunciado nesta quarta-feira (2) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil entrou na lista de países que sofrerão sobretaxas, mas com a menor alíquota: 10%.

A medida, chamada pelo republicano de "Dia de Libertação", impõe tarifas mais agressivas a outros países, como China (34%), Vietnã (46%) e Japão (24%), parceiro histórico dos EUA no comércio e na segurança internacional.

Trump afirmou que as tarifas são uma resposta recíproca às taxas de importação impostas por outros países aos produtos americanos.

Segundo a Casa Branca, as novas regras entram em vigor à 0h01 do sábado, 5 de abril, inicialmente com as tarifas básicas. Para o Brasil, a taxa de 10% passa a valer a partir desse momento.

Oportunidade para o Brasil ampliar participação no comércio exterior

Especialistas avaliam que, apesar da sobretaxa, a posição do Brasil — com a menor alíquota entre os afetados — pode representar uma vantagem competitiva diante de concorrentes diretos, especialmente se o país souber articular acordos comerciais com novos parceiros.

“A sobretaxa de 10% abre espaço para o Brasil ganhar mercado. É preciso negociar com inteligência”, aponta o economista Adalmir Marquetti, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em entrevista à TV Brasil..

Ele defende a aceleração do acordo entre Mercosul e União Europeia  como estratégia de diversificação e mitigação de riscos.

Marquetti destaca ainda a importância de intensificar o relacionamento com países asiáticos em crescimento, como Japão e Vietnã — ambos afetados com tarifas mais pesadas.

Na viagem, após avanços nas negociações com o Japão, o Brasil obteve uma nova vitória estratégica na Ásia: o Vietnã autorizou a importação de carne bovina brasileira.

“A viagem do presidente Lula a esses países é positiva nesse sentido”, afirmou.

O professor argumenta que a ampliação da pauta de exportações brasileiras deve ir além do agronegócio e dos produtos minerais. “Precisamos aproveitar esse momento para aumentar a presença de produtos industriais brasileiros com maior valor agregado”, completou.

Segundo ele, o Brasil — atualmente entre a sétima e a oitava maior economia do mundo — tem margem para avançar no comércio global, ocupando espaços deixados por países atingidos pelas medidas americanas.

Marquetti também lembra que o tarifaço dos EUA incide apenas sobre bens, não serviços — uma vantagem para os norte-americanos, que lideram mundialmente em áreas como tecnologia e audiovisual.

Reação dos mercados: dólar oscila e bolsa fecha estável

O anúncio das tarifas provocou reações imediatas nos mercados. O dólar comercial fechou a quarta-feira cotado a R$ 5,699, com alta de 0,27%. 

A moeda oscilou ao longo do dia, chegando a cair para R$ 5,66 e atingindo R$ 5,71 na máxima.

Apesar da leve alta diária, a moeda acumula queda de 7,81% em 2025. Desde 10 de março, a desvalorização é de 2,61%.

A bolsa de valores também teve um dia volátil. O Ibovespa encerrou com leve alta de 0,07%, aos 131.245 pontos. A variação refletiu a incerteza dos investidores diante das medidas de Trump e seus possíveis impactos sobre o comércio internacional, sobretudo no setor de commodities. 

China promete retaliação e critica EUA

A China reagiu de forma contundente ao tarifaço. Em comunicado, o Ministério do Comércio chinês exigiu a suspensão imediata das tarifas e prometeu contramedidas para proteger seus interesses.

“A China se opõe firmemente a isso e tomará contramedidas", afirmou a nota oficial, destacando o risco de uma escalada em uma guerra comercial que pode desestabilizar cadeias globais de suprimento.

Exportadores chineses enfrentarão uma tarifa de base de 10%, que sobe para 34% a partir de sábado.

O restante das sobretaxas entra em vigor em 9 de abril. O Japão também se manifestou, apontando riscos aos investimentos no território norte-americano. Produtos japoneses serão taxados em 24%.

A União Europeia prometeu anunciar sua resposta nesta sexta-feira (3). O Brasil, por sua vez, já aprovou uma lei que autoriza medidas de retaliação contra países que impuserem barreiras aos seus produtos. 

Governo brasileiro critica tarifa e avalia reação na OMC

O governo brasileiro lamentou a decisão unilateral dos EUA de aplicar tarifa adicional de 10% sobre todas as exportações do Brasil.

Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirmaram que a medida viola os compromissos americanos com a Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudica o comércio bilateral.

Segundo dados oficiais dos EUA, o superávit comercial americano com o Brasil em 2024 foi de US$ 7 bilhões em bens e US$ 28,6 bilhões somando bens e serviços — o terceiro maior superávit dos EUA no mundo. Em 15 anos, esse saldo acumulado chega a US$ 410 bilhões.

Para o governo brasileiro, alegações de desequilíbrio e falta de reciprocidade não se sustentam. A prioridade, no entanto, será buscar solução diplomática.

“O Brasil manterá o diálogo com os Estados Unidos para reverter as medidas e, se necessário, recorrerá à OMC para defender seus interesses”, diz a nota. 

Congresso aprova Lei da Reciprocidade Comercial

Como resposta direta ao tarifaço, a Câmara dos Deputados aprovou, também nesta quarta-feira (2), o Projeto de Lei 2.088/2023, que institui a chamada Lei da Reciprocidade Comercial.

O texto, que já havia passado pelo Senado, autoriza o governo brasileiro a adotar contramedidas contra países ou blocos econômicos que imponham barreiras aos produtos nacionais.

O projeto, aprovado em regime de urgência, prevê que a Camex (Câmara de Comércio Exterior) poderá impor restrições a bens e serviços importados, desde que esgotadas as tentativas de negociação. O prazo para sanção presidencial é de 15 dias úteis.

Segundo o relator da proposta, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), a medida é uma resposta à imposição de barreiras sem justificativa técnica. 

“É uma vitória da unidade em defesa do interesse nacional. Estamos garantindo a competitividade do Brasil”, afirmou.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion (PP-PR), reforçou a importância da ação legislativa. “Criamos uma legislação robusta para proteger nosso setor produtivo e reagir de forma firme diante de agressões comerciais”, disse.

FONTE: AgrofyNews
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