China foca retaliações em produtos agrícolas dos EUA: soja, carnes, algodão e outros
Brasil foi amplamente favorecido após a 1ª Guerra Comercial entre as duas maiores economias do mundo

As retaliações de Pequim à 2ª Guerra Comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, focam principalmente produtos agropecuários, como soja, carnes (bovina, aves e suínos), algodão, sorgo e pescados.
O gigante asiático anunciou, na semana passada, a elevação entre 10% a 15% nas tarifas a tais produtos estadunidenses e disse mais por meio de seus canais oficiais.
”Se é guerra que os EUA querem, seja uma guerra tarifária, comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos prontos para lutar até o fim”, afirmou o ministério de Relações Internacionais da República Popular da China.
Sendo a segunda maior economia do mundo, a China aspira ser uma grande potência tanto no cenário regional quanto global, buscando respeito de todos os países, especialmente dos Estados Unidos, como prova de que o Partido Comunista tornou a China próspera e forte.
A retórica agressiva de ambos os lados evoca comentários semelhantes de 2018, quando Trump iniciou sua primeira guerra comercial contra a China, que teve que se apressar para responder com medidas equivalentes.
Desde então, os líderes de Pequim desenvolveram um conjunto de ferramentas que incluem tarifas, restrições a importações e exportações, sanções, revisões regulatórias e medidas para limitar empresas de fazer negócios na China.
Todas essas medidas são projetadas para causar impacto na economia e nas empresas dos EUA, em resposta às ações americanas.
Potencial impacto da retaliação da China
O gráfico apresenta os principais produtos agrícolas dos Estados Unidos que foram afetados pelas novas tarifas impostas pela China, variando entre 10% e 15%.
A soja é, de longe, o item mais impactado, com exportações que somam US$ 12,8 bilhões, evidenciando a importância desse produto na relação comercial entre os dois países.
O alto volume de importação reflete a grande demanda chinesa por soja para a produção de ração animal, setor que cresceu significativamente com o aumento da produção de suínos na China.
Além da soja, a carne (incluindo frango e suínos), o algodão e o sorgo também são impactados pelas tarifas chinesas. A carne e aves representam um volume considerável, com exportações de US$ 3,2 bilhões, destacando a importância do setor de proteínas animais dos EUA para a China.
O algodão e o sorgo, embora em menores quantidades, com US$ 1,5 bilhão e US$ 1,3 bilhão respectivamente, também demonstram a diversidade da pauta exportadora dos EUA para o mercado chinês.
A imposição dessas tarifas reflete a estratégia da China de pressionar setores-chave da economia dos Estados Unidos, principalmente aqueles ligados ao agronegócio.
Como a China é um dos maiores compradores desses produtos, os agricultores americanos podem sofrer perdas significativas caso não consigam diversificar seus mercados.
Além disso, essas medidas podem beneficiar países concorrentes, como o Brasil e a Argentina, que já vêm ampliando suas exportações de soja e carne para a China nos últimos anos.
Brasil ganhou com 1ª Guerra Comercial
A China é um dos maiores importadores globais de commodities agrícolas, adquirindo produtos como soja, carnes (frango, suína e bovina), algodão, sorgo e pescados de diversos países, especialmente do Brasil e dos Estados Unidos.
A 1ª Guerra Comercial promovida por Trump contra a China beneficiou claramente os produtos agropecuários brasileiros.
Desde então, o Brasil passou a ser o maior fornecedor de soja para a China. Em 2024, as exportações brasileiras de soja para o país asiático totalizaram aproximadamente US$ 22 bilhões, representando cerca de 60% das importações chinesas desse grão.
As exportações de soja dos EUA para a China somaram US$ 12,8 bilhões em 2024, correspondendo a aproximadamente 21% do mercado chinês, uma redução significativa em relação aos 40% de 2016.
O Brasil é o principal fornecedor de carne de frango para a China. Em 2019, as exportações brasileiras de frango para o mercado chinês totalizaram 585 mil toneladas, representando 55% das importações chinesas desse produto.
Estados Unidos: As exportações de carne de frango dos EUA para a China foram significativamente afetadas por restrições anteriores e pela guerra comercial, resultando em volumes modestos nos últimos anos.
As exportações brasileiras de carne suína para a China cresceram nos últimos anos. Em 2024, o Brasil exportou cerca de 500 mil toneladas de carne suína para o mercado chinês, representando aproximadamente 15% das importações chinesas desse produto.
As exportações de carne suína dos EUA para a China totalizaram US$ 2,54 bilhões em 2024, uma queda em relação aos US$ 4,11 bilhões registrados em 2021.
O Brasil é um dos principais fornecedores de carne bovina para a China. Em 2024, as exportações brasileiras desse produto para o mercado chinês totalizaram aproximadamente 1,2 milhão de toneladas, correspondendo a cerca de 40% das importações chinesas de carne bovina.
As exportações de carne bovina dos EUA para a China estão ficando cada vez mais limitadas nos últimos anos devido a restrições comerciais e sanitárias, resultando em volumes modestos.
O Brasil tem aumentado sua participação no mercado chinês de algodão. Em 2019, o país respondeu por 27,3% das importações chinesas desse produto, tornando-se o maior fornecedor, à frente de países como Austrália e Estados Unidos.
As exportações de algodão dos EUA para a China totalizaram US$ 1,49 bilhão em 2024, uma leve queda em relação aos US$ 1,57 bilhão registrados em 2023.
China altiva
Além das tarifas aos produtos agrícolas dos EUA, os chineses já determinaram a suspensão das importações de madeira americana e inclusão de 15 empresas americanas em uma lista negra.
Contudo, Pequim também demonstrou moderação em sua resposta para deixar espaço para negociações, segundo analistas. Mas Xi Jinping não quer falar com Trump, diferente de canadenses e mexicanos, por enquanto.
"Xi não entrará em uma ligação se houver chance de ser pressionado ou humilhado e, por razões políticas e estratégicas, ele não assumirá o papel de suplicante. Em vez disso, a China está respondendo de forma rápida — mas comedida — a cada conjunto de tarifas”, afirmou um analista.
A economia da China desacelerou, mas ainda cresce a um ritmo anual de quase 5%. Sob a liderança de Xi, o Partido Comunista tem investido pesadamente em tecnologia avançada, educação e outras áreas.
O país também fortaleceu suas relações comerciais com muitos outros países em comparação com o primeiro mandato de Trump, diversificando suas fontes de produtos essenciais. Por exemplo, a China agora compra a maior parte de sua soja do Brasil e da Argentina, em vez dos EUA.
Por sua vez, a porcentagem de produtos chineses vendidos aos EUA caiu. Enquanto isso, mais de 80% das exportações do México vão para os EUA, e o Canadá envia 75% de suas exportações para lá.
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