Número de mortos sobe para 83 e RS vê frigoríficos colapsados e lavouras alagadas

Publicado no dia 06/05/2024 às 11h42min
Estado pode perder 5 milhões de toneladas de soja

O pior desastre climático da história do Rio Grande do Sul já afetou 850.422 pessoas em 345 cidades. O boletim mais recente da Defesa Civil - divulgado às 9h de hoje (dia 6) - indica que há 83 mortes confirmadas e pelo menos mais quatro em investigação. O número de feridos é de 276 e há 111 desaparecidos, além de 121.957 desalojados e 19.368 em abrigos.

A última catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul foi em setembro de 2023, quando 54 pessoas morreram depois da passagem de um ciclone extratropical.

As consequências da tragédia continuam a ser contabilizados e os números ainda vão subir. O agro gaúcho foi severamente atingido e pelos relatos vai demorar para se reerguer.

Cadeias produtivas atingidas
Segundo o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, as chuvas vão impactar as cadeias produtivas da agropecuária, principalmente de aves e suínos. Isto porque os animais não conseguem chegar nos frigoríficos.

“Estamos acompanhando o impacto nas cadeias produtivas, porque os animais não chegam, o frigorífico foi também atingido, colapsado. Isso atinge a vida dos trabalhadores naturalmente, mas tem uma questão de abastecimento também. Então, ações vão ter que ser empreendidas nessa área. O impacto na indústria, por insumos que não chegarão, ou as empresas que fornecem e que foram atingidas, paralisações nas plantas industrias, que vão exigir medidas econômicas”, ressaltou o governador.

Leite advertiu para o risco de desabastecimento e de colapso em diversas áreas, por causa da interdição do Aeroporto Salgado Filho, dos bloqueios e destruições em rodovias e da falta de energia e água em diversas localidades.

“Serão necessárias medidas de apoio para reconstrução das unidades de produção agropecuária por conta da questão do abastecimento”, continuou Leite.

Segundo informações repassadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária na última sexta-feira, pelo menos dez frigoríficos do estado paralisaram totalmente os abates, na maioria de aves e suínos, e uma unidade cancelou os trabalhos.
O reflexo deverá aparecer em breve nos supermercados, com redução da oferta, segundo projeção feira pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

“Se não buscarmos alternativa de escoamento, já poderemos ter algum tipo de dificuldade. Desabastecimento total não vai ter, mas acredito que uma redução na oferta nos próximos dois, três dias”, explicou José Eduardo dos Santos, presidente da Asgav em entrevista ao jornal Zero Hora.

Segundo a Sindlat-RS, 40% do leite captado no Estado já enfrenta problema seja por atraso, recebimento ou impossibilidade de coleta.

“As empresas estão hora a hora tentando cooperar, para que possam "beber" o leite mais próximo das suas fábricas, fazendo essa troca entre elas, para que a menor quantidade de produtores seja atingida, para que todo mundo consiga resgatar o leite, afirmo Guilherme Portella, presidente do Sindilat-RS também ao Zero Hora.

Grãos: 5 milhões de toneladas perdidos
A estimativa é que o Rio Grande do Sul pode perder 5 milhões de toneladas de soja alagados - ainda faltava 30% da colheita do grão no estado. A produção de soja no estado estava estimada em 22 milhões de hectares.

O Rio Grande do Sul é segundo maior estado produtor de soja no Brasil. As precipitações em excesso retardam as atividades de campo e vêm gerando preocupações sobre a qualidade das lavouras, explica Cepea. O excesso de umidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta de boa qualidade deste subproduto, especialmente para a indústria alimentícia.

De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), no Brasil já foram colhidos 90,5% da área de soja da safra 2023/24. O Sul é a região com as atividades de campo mais atrasadas.

No Rio Grande do Sul, as atividades somam 60%, contra 70% no mesmo período de 2023, conforme aponta a Conab. A Emater/RS, por sua vez, indica que 76% da área sul-rio-grandense havia sido colhida até o dia 2 de maio, inferior aos 83% na média dos últimos cinco anos. Em Santa Catarina, a colheita alcançou 57,6% da área, abaixo dos 82,8% há um ano (Conab).

Arroz
O Rio Grande do Sul é o principal estado produtor de arroz do Brasil. O Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) informou que os levantamentos dos dados sobre o avanço da safra estão sobrestados devido aos fatores climáticos e seus desdobramentos que resultaram na interrupção da colheita.


Segundo pesquisadores do Cepea, a colheita, que já estava bastante atrasada em relação a anos anteriores, pode ser ainda mais prejudicada.

Colaboradores consultados pelo Cepea relatam que as recentes tempestades deixaram as lavouras debaixo d'água, inviabilizando as atividades. Além disso, algumas estradas estão interditadas, o que também dificulta o carregamento do cereal. Esse cenário aumenta as incertezas quanto à produtividade da safra 2023/24, ainda conforme apontam pesquisadores do Cepea.

“Nesse momento, 82,9% das lavouras foram colhidas, restando em torno de 150 mil hectares a serem colhidos. A região Central é a que apresenta menor percentual de área colhida, com 62%, restando cerca de 45 mil ha. Essa é a região mais afetada com as enchentes”, diz o Irga em nota.

Considerando que a chuva ainda não cessou, o difícil acesso a grande parte das áreas afetadas e a falta de previsão do retorno da normalidade dos níveis de água, não é possível informar as perdas que ocorrerão nas lavouras de arroz irrigado do RS neste momento, completou o Instituto.

A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) revelou que está monitorando a situação das lavouras do Estado devido às fortes chuvas que vêm ocorrendo nesta semana em todas as regiões gaúchas.

“A entidade está colocando seu corpo operacional à disposição dos produtores que estiverem enfrentando dificuldades devido às intempéries dos últimos dias e que devem continuar até o final desta semana de acordo com os prognósticos”, explicou também em nota.


Reconstrução de estradas

A reconstrução das rodovias destruídas pelas enchentes no Rio Grande do Sul terá apoio do governo federal, inclusive das estradas administradas pelo estado, disse neste domingo (5) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acompanhado de uma comitiva de representantes dos Três Poderes, Lula disse que as verbas estão garantidas e prometeu reduzir a burocracia para as obras.

“Eu sei que o estado tem uma situação financeira difícil, sei que tem muitas estradas com problema. Quero dizer que o governo federal através do Ministério dos Transporte vai ajudar vocês a recuperarem as estradas estaduais”, afirmou Lula após sobrevoar a região metropolitana de Porto Alegre, acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; do Senado, Rodrigo Pacheco; e do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Fabio Frattini Manzini
Agrofy News
repórter freelancer

Fonte: Agrofy News

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