"Abril Vermelho" começa com 24 invasões de terra do MST em todo o Brasil

Publicado no dia 16/04/2024 às 16h59min
Movimento invadiu área da Embrapa pela terceira vez

Por redação | Agrofy News

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou a "A jornada de lutas Abril Vermelho” invadindo 24 áreas em 12 estados brasileiros. Os números foram confirmados pelo próprio movimento.

O grupo iniciou a ação ontem (dia 15) e seguirá até sexta-feira (dia 19) com novas invasões.

As invasões ocorreram em Sergipe, Pernambuco, São Paulo, Goiás, no Rio Grande do Norte, Paraná, Pará, Distrito Federal, Ceará, Rio de Janeiro e na Bahia.

"A jornada de lutas Abril Vermelho", organizada pelo MST, promove ações para lembrar do Massacre de Eldorado de Carajás, no Pará, em 17 de abril de 1996. Na ocasião, 21 camponeses morreram por uma operação da Polícia Militar de desocupação de terra.

Embora o movimento alegue que as invasões aconteçam em terras improdutivas e de forma pacífica, ontem se observou que não foi bem assim.

Área da Embrapa invadida pela terceira vez
Integrantes do movimento invadiram ontem (dia 15) duas áreas da Empresa  Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Petrolina, no interior pernambucano. É a terceira vez que o MST invade o local.

Uma das áreas ocupadas pelo movimento, de acordo com a Embrapa, faz parte do Campo Experimental de Caatinga e é destinado aos rebanhos de criação extensiva. No entanto, o MST alega que o terreno de 1,5 mil hectares é improdutivo. É a terceira vez que o MST ocupa uma área da Embrapa Seminário, unidade com sede em Petrolina.

A unidade invadida pelo movimento, que a considera improdutiva, é um imóvel público Estação de Zootecnia do Extremo Sul (Essul, ligada à Ceplac), que desenvolve pesquisa com gramíneas e pastagens há mais de 40 anos.

A segunda área é da Codevasf e é utilizada pela Embrapa também em Petrolina,

Em nota, "a Embrapa reafirma seu compromisso histórico com a agricultura familiar e com a produção sustentável de alimentos, está aberta ao diálogo e adotando as medidas cabíveis para solucionar a situação".

Os invasores saíram da propriedade após negociações com o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Em SP
Em São Paulo, a invasão de terra foi reprimida pela Polícia Militar em Campinas e Agudos, no interior do estado. As famílias tentaram negociação para manter acampamento em áreas ocupadas.

A área em Campinas é administrada por uma empresa do setor mobiliário e, segundo o MST, está improdutiva; o proprietário nega.

Após a invasão em Campinas, a Policia Militar, com auxílio da Guarda Municipal, retirou as famílias.

Uma das invasões aconteceu em Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro. Cerca de 300 famílias invadiram terras às margens da BR-101, pedindo a conclusão do processo de regularização do assentamento Cícero Guedes.

Foram mobilizadas mais de dez viaturas que cercaram o Assentamento Josué de Castro. A Secretaria de Estado de Polícia Militar confirmou, em nota, que uma operação foi deflagrada hoje em Campos dos Goytacazes, mais especificamente na região do Morro do Coco.

Segundo a secretaria, o objetivo foi garantir a segurança e a ordem na região diante da possibilidade de invasões ilegais a propriedades locais.

De acordo com o MST, houve intimidação de famílias assentadas.

Caiado: 'Vou tirar todos'
As invasões também provocaram reações imediatas de governadores. Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) prometeu que não permitirá invasões de terra no estado.

“Não vai ter invasão porque eu vou tirar todos”, disse Caiado para completar.

“Minha tropa de choque está na região, já fizemos um bloqueio de um ônibus. Estamos com força de segurança e inteligência, vamos bloquear os ônibus que estão indo para a invasão. Se ele chegarem lá, vamos levar para a delegacia para fazer BO.”

Em Goiás, mil famílias invadiram na madrugada desta segunda-feira uma área de 8 mil hectares da usina CBB, em Vila Boa de Goiás

Tarcísio também se manifestou
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)  afirmou que o estado não vai permitir invasões de terra.

“Não vamos permitir invasões em SP”, afirmou em entrevista para a CNN.

Em São Paulo, houve invasão em duas cidades: Agudos e Campinas. O governador informou que elas já foram desmobilizadas.

“Temos sido rápidos nestas desmobilizações.”

Governo lança plano para amenizar
Líderes do MST afirmam que a retomada das invasões acontece para pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela reforma agrária.

Ontem, o presidente, para tentar diminuir o descontentamento do movimento com seu governo, lançou o "Programa Terra da Gente".

De acordo com o programa, até 2026, 295 mil famílias agricultoras serão beneficiadas com a medida. Para 2024, está previsto um orçamento de R$ 520 milhões para a aquisição de imóveis, beneficiando 73 mil famílias.

Embora tenha ocorrido as invasões do MST, o presidente afirmou que reforma agrária "pode ser feita sem muita briga".

"Esse programa é um passo para mostrarmos que, através de diálogo, também conseguimos garantir terra para pequenos agricultores", disse.

Entre as novidades do programa, está a adjudicação (transferência de propriedade) de terras oriundas de grandes devedores da União e a possibilidade de negociação com bancos, empresas públicas e governos estaduais para a transferência de imóveis rurais também em troca do abatimento de dívidas ou permutas (encontro de contas).

"Isso não invalida a continuidade da luta pela reforma agrária, mas o que nós queremos fazer, aos olhos do Brasil, o que a gente pode utilizar sem muita briga. Isso sem querer pedir para ninguém deixar de brigar", acrescentou.

Fonte: Agrofy News