Macron diz que acordo Mercosul-UE é péssimo: "precisa ser renegociado do zero"
Para presidente francês, negociações precisam ser atualizadas e prever temas como o clima
Após se reunir com empresários e ministros brasileiros hoje (27) em São Paulo, o presidente da França, Emmanuel Macron, jogou água fria em acordo entre Mercosul e União Europeia. Ele voltou a criticar e disse que não defende o acordo que está sendo costurado entre os países dos dois blocos.
Segundo ele, o atual acordo está sendo negociado há mais de 20 anos e não foi atualizado, prevendo, por exemplo, temas como o clima. Para ele, o acordo “precisa ser renegociado do zero”.
“O Mercosul é um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o que queremos. Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, destacou.
Macron de depoimento ontem (dia 28) ao participar do Fórum Econômico Brasil-França, que está sendo realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista.
“É o ganha-ganha”
O posicionamento de Macron contraria o governo brasileiro. Antes da fala do presidente francês, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, havia defendido o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
“O Mercosul ampliou mais um país este ano, que é a Bolívia. Fizemos um acordo com Cingapura e houve conversas com a União Europeia. O presidente Lula sempre fala que tem que haver reciprocidade. É o ganha-ganha. Nós conquistamos mercado, nós abrimos o mercado”, disse Alckmin.
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também havia defendido o acordo, dizendo que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva “vai continuar insistindo nele”.
CNA recebe embaixadora da UE para tratar de acordo com Mercosul
Haddad chegou a comparar um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia com a aprovação da reforma tributária no Brasil. Segundo ele, o Brasil demorou 40 anos para aprovar a reforma tributária que “colocou um ponto final no caos tributário”.
“Não devemos desistir desse acordo. Se foi possível aprovar a reforma tributária depois de 40 anos, por que não, depois de 20 (anos) aprovar um bom acordo União Europeia e o Mercosul”, disse Haddad ao discursar durante o evento.
Acordo
Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. A negociação envolve 31 países.
O acordo cobre temas tanto tarifários quanto de natureza regulatória, como serviços, compras públicas, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual.
Na semana passada, o acordo Mercosul-UE foi tema do encontro entre o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, e a embaixadora da União Europeia (UE) no Brasil, Marian Scheugraf.
Na ocasião, os dois defenderam a necessidade de mais diálogo para avançar nas negociações do Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Macron em São Paulo
Em São Paulo, Macron disse “estar muito feliz em estar” na cidade. Ele transmitiu aos empresários brasileiros três importantes mensagens: “as empresas francesas acreditam no Brasil, as empresas brasileiras devem acreditar mais na França e temos uma agenda comum para conseguirmos superar os grandes problemas e que nos levem para uma transição energética”.
Macron destacou principalmente o segundo ponto, afirmando que as empresas brasileiras podem acreditar na França porque medidas econômicas foram tomadas pelo governo francês, como a criação de empregos e investimentos maciços, para tornar o seu país atraente aos negócios.
“É preciso acelerar, ir mais longe. A França será a porta de entrada ao mercado europeu”, disse ele.
Emissões de carbono
Ele também destacou o papel do Brasil e da França no enfrentamento das emissões de carbono. Para ele, os dois países juntos podem superar esse problema, criando regras mais claras, redobrando esforços e aperfeiçoando os acordos bilaterais.
Macron chegou na Fiesp por volta das 16h40 e, no local, se reuniu a portas fechadas com o ministro Fernando Haddad, o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, banqueiros e empresários.
Depois, ele discursou no encerramento do evento, antes de seguir para uma agenda por vários locais de São Paulo que prevê a inauguração do Instituto Pasteur, na Universidade de São Paulo (USP); um encontro com jovens da Fundação Gol de Letra junto ao ex-jogador Raí e um jantar com personalidades brasileiras da cultura e do esporte.
Hoje (dia 28), ele estará em Brasília, onde se encontrará novamente com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Por Redação com informações da Agência Brasil | Agrofy News