Agricultura regenerativa deixa soja mais resiliente às mudanças climáticas, diz produtor

Publicado no dia 28/03/2024 às 15h34min
Júlio Cesar Pereira é parceiro do programa ADM Regeneração, projeto piloto da gigante norte-americana

Na sua fazenda, dos 5,1 mil hectares de cultivos de soja, milho, trigo, feijão e batata, 1,1 mil hectares foram destinados à produção da oleaginosa. (Foto - Divulgação Fazenda Pombo)

O produtor Júlio Cesar Pereira, proprietário da Fazenda Pombo, em Uberlândia (MG), é um dos principais produtores de milho da região. Em novembro de 2023, porém, ele decidiu inovar mais uma vez e aderiu ao programa da ADM (Archer Daniels Midland Company) focado na agricultura regenerativa.

A fase piloto do programa ADM Regeneração tem foco no cultivo da soja. Assim, o produtor aderiu a uma nova cultura. A prática sustentável não é nenhuma novidade para o Júlio Cesar Pereira.

Isto porque dez anos antes de fechar parceria com a gigante norte-americana, ele já adotava o plantio direto em sua fazenda. Outras práticas sustentáveis também eram adotadas por ele, como uso de bioinsumos para controle de pragas, por exemplo.

Na sua fazenda, dos 5,1 mil hectares de cultivos de soja, milho, trigo, feijão e batata, cerca de 2 mil hectares foram destinados à produção da oleaginosa para o programa da agricultura regenerativa da ADM.

Foi justamente no ano passado quando os produtores foram impactados pelas mudanças climáticas, que o produtor pensou que o pior estava por vir. Minas Gerais foi um dos estados mais atingidos pela onda de calor e pela estiagem no final do ano.

“Eu pensei que seria uma catástrofe para soja. A agricultura é uma escola e você aprende mais no período da crise. A produção sofreu menos após eu entender onde tinha mais cama de palha, mais cama de matéria orgânica. Minha produtividade não caiu nem 10% em relação à safra passada quando obtive minha melhor produtividade. Para você ter uma ideia, em 2014 e 2015, período difícil de calor, mas nem tanto como esse, a gente retrocedeu 30 a 40%, muito mais do que no ano passado”, contou.


A produtividade da soja atingiu 73 sacas por hectare na Fazenda Pombo, enquanto 79,5 sacas por hectare foram alcançadas na safra passada.

“A gente faz a diferença quando as coisas são bem feitas, com o plantio direto. Me propus a estar neste programa para aprender. Eu tenho aprendido muito.”

Custos
Sobre os custos para adotar as práticas regenerativas a partir do programa, o produtor revela não ter tido nenhum custo extra, já que já utilizava práticas sustentáveis na sua fazenda.

“Fiz com os mesmos recursos que eu já tinha. Fiz mais um ajuste aqui, outro lá e ocorreu uma melhora no manejo. A lição que fica é que é possível produzir com muita consciência e com sustentabilidade. Vale a pena apostar na agricultura regenerativa.”

Sobre a parceria com a ADM, ele já projeta mais. “Do projeto, utilizo quase dois mil hectares, mas a ideia é que participemos com tudo. Eles estão com fome e nós também.”

Além de apostar na agricultura regenerativa, o produtor revela que sua fazenda é sucesso e pode ser apresentada pela ADM como exemplo e de espelho para a empresa levar para seus fornecedores de grãos, por conta de gestão, além da adoão da agricultura de precisão.

“Só passa crise quem não tem gestão. Consigo manter minha rentabilidade não só com boa produtividade fruto das práticas sustentáveis que adoto, mas com gestão financeira, tributária, de recursos humanos, aqui tem até cartão de ponto para funcionários. Minha fazenda funciona como uma empresa. E só funciona, porque todo mundo entendeu que seria bom para todos utilizar boas práticas, seja no campo, seja no local de trabalho.”

Soja já colhida
Toda a soja da Fazenda Pombo já foi colhida nesta temporada e ele já vendeu 70% da safra 2023/24 em abril do ano passado graças à consultoria contratada. “Vendi com preço bem melhor do que está agora", explica.

Segundo ele, os produtores têm alguma restrição para aotar a agricultura regenerativa. “Para mim foi mais tranquilo, porque os resultados estavam chegando antes de tomar a decisão. Os resultados foram naturais, só organizamos.  Não tem como mais não usar a agricultura regenerativa. Tenho consultoria de irrigação que me orienta a hora de irrigar, a hora que estou com muita água no solo. O produtor quando recebe esse tipo de informação, de tecnologia, ele não está ganhando só dinheiro, está ganhando longevidade. Isso é extremamente importante”, diz para completar.

“Minha propriedade não está pronta para hoje, está pronta para daqui 20 anos. Ela está adaptada. Daqui 148 anos não vou estar aqui, mas a fazenda vai estar e temos que ter essa consciência”.

Saúde do solo aguentou a onda de calor
Segundo André Germanos, diretor de Negócios de Carbono e Agricultura Regenerativa da ADM na América Latina, o solo saudável da Fazenda Pombo foi um dos motivos para ter evitado a catástrofe esperada pelo produtor.

“Temos a rotação de cultura aqui e isso traz diferentes tipos de enraizamento com raízes diversas para o solo, tem diferentes fixação de moléculas. Você tem a estrutura do solo mais saudável, solo que tem menos erosão e captando mais água e tudo isso contribui para a resiliência climática no sentido prático.”

No período de seca que ocorreu no ano passado com seguidas onda de calor, segundo ele, o solo que tem perfil saudável, se mostra mais pujante por conta da biodiversidade.

“Assim, ele resiste muito mais pois continua fornecendo nutrientes para planta de uma maneira melhor do que um solo que não está tão saudável. Na prática, essas ações regenerativas, vão melhorando o solo e fazem com que você tenha uma safra e uma produção mais resiliente. O Júlio consegue ver isso entre as áreas que ele tem trabalhado”, explica.

Para a adoção da agricultura regenerativa, o diretor revela que um aumento de custo é inevitável em um primeiro momento.

“Temos potencialmente algum aumento de custo para chegar neste patamar, por exemplo, que o Júlio está. Isto porque tem que se investir para fazer monitoramento de água, para mudar alguns produtos, por exemplo”, explica, para continuar.

“Nos primeiros dois anos a três anos, pode ocasionar até uma flutuação de produtividade, mas no médio prazo, de cinco, seis, sete anos, isso já se recuperou e os ganhos já ultrapassam os custos do começo. Por isso, é importante o papel da ADM em bancar esses programas. A gente enxerga que esse apoio técnico dado aos produtores, acompanhando todo o ciclo produtivo, é exatamente para apoiar o produtor neste começo.”

O projeto piloto da empresa auxilia o agricultor na transição para práticas mais sustentáveis abrangendo três pilares: agricultura no plantio direto, solo coberto/culturas de cobertura e aumento de uso de insumos biológicos.

Para os próximos 5 anos, a ADM visa ampliar em 10 vezes, de 20 mil para 200 mil hectares, a área coberta por seu programa de agricultura regenerativa, lançado em novembro do ano passado.  


Fabio Frattini Manzini
Agrofy News
repórter freelancer

Fonte: Agrofy News

ÚLTIMAS

Cotações - Boi gordo

26 de abril de 2024 às 12:35:42

Cotações - Boi gordo (Boi China)

26 de abril de 2024 às 12:34:01

Fale Conosco

RUA B 21 QUADRA 25 CASA 05 ITANHANGA UM CEP 75680 456 Caldas Novas/GO
(66) 9995-30168 | (64) 3453-5179 | (66) 99953-0168
contato@portalghf.com.br